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“Dize-lhes mais: — Assim diz o Senhor: — Cairão os homens, e não se tornarão a levantar? Desviar-se-ão, e não voltarão?” (Jeremias 8:4).

Eles [os homens] não desejaram dar ouvidos aos ditames da razão. Eles não desejaram agir, nas questões das suas almas, com a mesma prudência comum com que agiam em outras coisas – terrenas e muitas diabólicas. Os pecadores se tornariam santos se apenas se mostrassem seres humanos, e a religião logo os governaria se o espírito reto os dominasse. Observe que aqui o Senhor diz: — “Vinde, e raciocinemos juntos” (v. 4, 5): — “Cairão os homens e não se tornarão a levantar!”. Se os homens caírem ao solo, caírem na lama, não se levantarão outra vez, tão depressa quanto puderem? Claro! Eles não são loucos a ponto de ficarem parados no chão. “Desviar-se-ão” do caminho correto? Sim, até mesmo os viajantes mais cuidadosos podem errar o caminho — e estes, cristãos, podem se perder, não absolutamente. Mas então, tão logo se dêem conta do engano, “não voltarão?”. Sim, este é o dever de todo cristão, certamente voltarão, com toda rapidez, e darão graças aquele que lhes mostrou seu erro — esta é a função do mestre de Teologia – o ministro de Deus.

Assim agem os homens em outras coisas [infelizmente terrenas]. “Por que, pois, se desvia este povo de Jerusalém com uma apostasia continua?”. Por que, depois de terem caído no pecado, não se apressaram a se levantar arrependidos? Por que, depois de terem visto que haviam tomado um caminho equivocado, não corrigiram o seu erro, e não se transformaram? Nenhum homem em perfeito juízo prosseguiria em um caminho que soubesse que jamais o levaria ao final da sua jornada — não agiriam assim eles pelos os seus pecados? Sabendo que o pagamento do pecado é a morte triplicada — em vida distante de Deus, física abandonada por Deus e eterna julgada por Deus (Romanos 6:23a)?; por mais “doce” que seja o pecado, não é racional aceitá-lo – “aconselho, que se a sua razão subjuga [e condena] o coração, não siga em frente” – Podendo aceitar o pagamento, o fiador — o dom gratuito de Deus — a própria vida, a saber, Jesus Cristo (Romanos 3:23b; João 14:6); é mais racional ouvir os profetas em vida (Lucas 16:29) do que Deus depois da morte — Ele dirá: — “[…] nunca os conheci” (Mateus 7:23) e por isso, “eles (os ímpios — os filhos do diabo) gritarão às montanhas e às rochas: Caiam sobre nós e escondam-nos da face daquele que está assentado no trono e da ira do Cordeiro! Pois chegou o grande dia da ira deles; e quem poderá suportar?” (Apocalipse 6:16, 17); está posto a vida e a morte. Veja a natureza do pecado: — é uma apostasia, é um retrocesso do caminho correto, não somente em direção a um desvio, mas um caminho contrário, deixando o caminho que leva à vida e tomando o caminho que leva à destruição completa — e, o que pode livrar o homem da morte, a não ser, o que a venceu? Vejamos.

O homem não encontra a Verdade – a Verdade encontra o homem.

Santo Ambrósio diz que, “Não é o homem que encontra a Verdade, mas a Verdade que encontra o homem, pois, é Pessoa, Jesus Cristo, o Filho de Deus”. E, acrescento, duas razões: — “Primeiro, o homem encontra-se completamente perdido; segundo encontra-se completamente morto”. E o que define-se como verdade?

Explico: — Assim como o bem qualifica o termo para o qual inclina-se o apetite [querer], assim, a verdade, o termo para o qual tende o intelecto. Pois bem, a diferença entre o apetite e o intelecto, ou qualquer conhecimento, está em que o conhecimento supõe o objeto conhecido, no conhecedor, ao passo que o apetite supõe que o desejável se inclina para a coisa mesma apetecida – ambicionado.

E, assim, o termo do apetite, que é o bem, está na coisa apetecível [desejada], enquanto o termo do conhecimento, que é a verdade, está no próprio intelecto — Por esta razão, o “culto racional [intelecto]” (Romanos 12:1), o amor por Deus, que permeia “todo o entendimento [intelecto]” (Marcos 12:30), em aprender da Verdade que é Cristo, pois Ele afirma ser “a Verdade” (João 14:6) e o Mestre, “aprendei [intelecto] de mim” (Mateus 11:29) — O oposto também é verdadeiro, “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? [a resposta é – Deus]” (cf. Jeremias 17:9), por isto (Deus) ordena, a nossa razão [intelecto] que se alimente de “tudo o que for verdadeiro, tudo o que for honesto, tudo o que for justo, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, nisso pensai” (Filipenses 4:8), se não fizer, ou seja, se não ouvir (seguir) a razão [intelecto], será guiado pelo coração, que é corrupto – “Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, fornicação, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias” (Mateus 15:19), diz Jesus.    

Pois bem, o “bem” está na coisa, enquanto esta se ordena para o apetite; por isso, a noção da bondade deriva da coisa apetecível [desejada] para o apetite, sendo, assim, a razão por que chamamos “bom ao apetite do bem”. Do mesmo modo, a verdade, estando no intelecto, enquanto este se conforma com a coisa intelegida [compreendida], necessariamente a noção da verdade deriva para essa coisa (aqui, Jesus Cristo), de maneira que também esta se chama verdadeira, enquanto se ordena, de certo modo, para o intelecto. Por isso, Jesus diz, “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32); ela está no intelecto – ou seja, Redenção, e na compreensão de todas as coisas – ou seja, Biocosmovisão.

Como o bem tem a natureza de apetecível [desejado], assim, a verdade se ordena ao conhecimento. Ademais, cada ser é cognoscível – acessível e alcançável – na medida em que é, e, por isso, diz Aristóteles: — “Que a alma é, de certo modo, tudo, quanto ao sentido e ao intelecto”.

E, portanto, assim como o bem se converte com o ser, assim também a verdade. Mas, assim como o bem acrescenta ao ser a noção de apetibilidade [desejo], assim a verdade, a relação com o intelecto — “Por esta razão, todos devem estudar Teologia, e o mestre tem este ofício de ser, “servus servorum Dei — servo dos servos de Deus”.

Os antigos filósofos não diziam que as espécies das coisas naturais procediam de algum intelecto, mas, que provinham do acaso – o que é falso. E por considerarem que a verdade implica relação com o intelecto, viam-se forçados a constituir a verdade das coisas em dependência do nosso intelecto; donde, as incongruências assinaladas pelo Filósofo, no lugar citado. “Mas, tais incongruências desaparecem, se admitirmos que a verdade das coisas consiste na relação com o intelecto divino” – pois, Deus nos fez a sua própria imagem (cf. Gênesis 1:26).

Concluo, que, conforme dito, a verdade existe no intelecto, que apreende a realidade como ela é – e isto, de fato; e, na realidade, enquanto tem o ser conformável com o intelecto preenchido do conhecimento de Deus. Pois bem, isto existe sobretudo em Deus. Pois, o seu ser não só é conforme com o seu intelecto, mas também é o seu próprio inteligir [compreender]; e o seu inteligir [compreender] é a medida e a causa de qualquer outro ser e de qualquer outro intelecto [nós]; e Ele mesmo é o seu ser e o seu inteligir, neste sentido nenhuma dogmática é suficiente na explicação de Deus, apenas o próprio Deus, pode dá explicação do seu próprio ser. Donde se segue, que não somente há nEle verdade, mas também que é a mesma suma, essência, substância e primeira Verdade – E, ore que esta Verdade te encontre, e conceda-te verdadeiro arrependimento, e verdadeira fé (cf. Marcos 16:16; Atos 4:12).

Essa enfadonha ocupação, essa dificuldade que existe em procurar a verdade e encontrá-la, deu Deus aos filhos dos homens, para nela os exercitar, como um castigo por nossos primeiros pais terem cobiçado o conhecimento proibido (cf. Eclesiastes 1:13; Gênesis 3:3, 6); e, o nosso consolo é, reitero, que não é o homem que encontra a Verdade, mas a Verdade é que encontra o homem, pois, ela é Pessoa (cf. João 14:6; 1 João 4:19), Jesus Cristo, o Filho de Deus; e é Deus quem nos ensinará (cf. João 6:44, 45; Isaías 54:13; Jeremias 31:34) todas as coisas (cf. 1 Coríntios 14:37).

Paz e graça.
Pr. Me. Plínio Sousa.

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