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Na primeira parte, comecei a argumentar que o escolasticismo reformado não deve ser descartado de imediato. Nos últimos anos, tem havido uma renovada apreciação por esse método e pela teologia que ele produziu. Da última vez, mencionei cinco aspectos pelos quais eu pessoalmente valorizo o escolasticismo reformado:

1 – A melhor Teologia começa com uma exegese sólida.

2 – A importância da História.

3 – A importância do sistema.

4 – A arte de formular boas perguntas.

5 – Uso de definições precisas.

Hoje, concluirei com os últimos cinco aspectos:

6 – Fazendo distinções.

Distinguir entre diferentes doutrinas e seus elementos é um marcador–chave da Teologia fiel. As Escrituras nos ensinam a distinguir. Além disso, a Igreja cristã há muito tempo reconheceu que aquele que ensina bem deve distinguir bem. A escolástica reformada se destacou na ciência das distinções teológicas. Os teólogos escolásticos reformados fizeram boas distinções nos níveis mais amplos. Por exemplo, Ursinus escreveu em seu comentário sobre o Catecismo de Heidelberg: — “A doutrina da Igreja consiste em duas partes: — a Lei e o Evangelho; no qual compreendemos a soma e a substância das Sagradas Escrituras”. Mas eles também fizeram distinções muito mais sutis. Benedict Pictet (1655 – 1724), por exemplo, escreveu sobre as maneiras pelas quais devemos pensar no amor de Deus. O amor de Deus pode ser distinguido em duas dimensões: — O amor que existe entre as pessoas da Trindade (ad intra) e o amor que Deus manifesta em relação às criaturas (ad extra)”. Com relação ao seu amor por suas criaturas, isso é ainda mais distinguido: — “[1] – o amor universal de Deus por todas as coisas, [2] – o amor de Deus por todos os seres humanos, tanto eleitos quanto réprobos, e [3] – o amor especial de Deus por seu povo” (Mark Jones, Antinomianism, p. 83). Apoiadas pelo ensino das Escrituras, tais distinções podem ser bastante úteis para uma Teologia clara e descomplicada.

7 – O valor da lógica e do rigor analítico.

Bons teólogos usam a lógica para promover as reivindicações da verdade da palavra de Deus. Nossas confissões reformadas fazem o mesmo. No entanto, achamos que essa ferramenta é usada de forma mais eficaz pelos escolásticos reformados. Um exemplo clássico é encontrado no argumento de John Owen (1616 – 1683) sobre a intenção da expiação de Cristo. Utilizando um silogismo robusto fundamentado na exegese bíblica, Owen elaborou um argumento à prova de falhas [“caso hermético[2]”] a favor da expiação definida, ou seja, a posição bíblica de que Cristo morreu exclusivamente pelos eleitos. Intimamente relacionada ao uso da lógica está a análise rigorosa. Os escolásticos reformados entenderam como chegar a todos os ângulos de um tópico específico. Em seu “Syntagma”, Amandus Polanus von Polansdorf (1561 – 1610) ilustrou isso quando discutiu a doutrina da criação. Usando os dados bíblicos, ele discutiu as causas eficientes, materiais e formais da criação, bem como o propósito e os efeitos da criação. No final da discussão, você tem a impressão de que todos os aspectos concebíveis foram abordados completamente e exaustivamente.

8 – A necessidade de engajamento polêmico.

Como em nossos dias, os escolásticos reformados encontraram desafios à fé. Católicos romanos, anabatistas, socinianos, arminianos (remonstrantes) e outros precisavam ser abordados. Não era suficiente simplesmente fazer declarações positivas de fé — os erros também precisavam ser abordados com firmeza. Portanto, na maioria das obras escolásticas, você encontrará engajamento polêmico em vários graus. Muitas obras desse período são exclusivamente dedicadas à polêmica. Por exemplo, Samuel Des Marets or Desmarets (1599 – 1673) pegou sua caneta contra Isaac La Peyrère (1596 – 1676) e seus argumentos a favor dos pré–adamitas[3]. As “Institutas de Teologia Elêntica” de François Turrettini (1623 – 1687) foram elaboradas com a ideia de que a Teologia é melhor compreendida no contexto da polêmica — o termo “Elenctica” no título deriva de uma palavra grega[4] que significa “reprovar ou corrigir”. Os escolásticos reformados não tinham receio de apenas defender a fé, mas também de atacá-la quando necessário. Muitos em nossa época mais sensível poderiam aprender algo com essa atitude!

9 – Espaço para a diversidade teológica (dentro dos limites confessionais).

Ninguém deve ter a impressão de que o escolasticismo reformado foi um movimento monolítico. Sim, pode-se argumentar razoavelmente que havia muitas doutrinas fundamentais sobre as quais havia um amplo consenso. Esse consenso foi definido principalmente pelas confissões reformadas. No entanto, dentro desses limites, pode-se encontrar certamente uma quantidade significativa de diversidade. Por exemplo, há a questão de saber se cada crente individual tem um anjo da guarda. Essa questão não é abordada nas Três Formas de Unidade. Um escolástico reformado como Gisbertus Voetius (1589 – 1676) seguiu a orientação de João Calvino (1509 – 1564) e de outros ao considerar a existência dos anjos da guarda como, no melhor dos casos, incerta. No entanto, Voetius também mencionou que outros teólogos escolásticos reformados, como Girolamo Zanchi (1516 – 1590), Johann Heinrich Alsted (1588 – 1638) e Daniel Chamier (1564 – 1621), afirmaram a posição antiga sobre os anjos da guarda. Essas duas visões podem coexistir entre os teólogos reformados? Por que não?

10 – Há um tempo e um lugar para a erudição.

Os melhores escolásticos reformados compreendiam uma das distinções mais importantes: — entre o púlpito e o ensino acadêmico [cátedra], ou entre o livro destinado ao fiel comum [membro comum da Igreja] e aquele voltado para estudantes de Teologia [ou para outros teólogos]. Em termos mais técnicos, eles entendiam a diferença entre o popular e o acadêmico. Certamente, nem todos os escolásticos reformados entenderam ou empregaram essa distinção, mas os melhores o fizeram. Considere Gisbertus Voetius, por exemplo. Ele foi um dos mais notáveis entre os escolásticos reformados. Seus escritos acadêmicos refletem seu grande aprendizado, abrangência de estudo e habilidades eruditas. No entanto, o mesmo Voetius escreveu um livro calorosamente pastoral intitulado “Deserção Espiritual” (em tradução para o inglês). Antes de se tornar professor de Teologia, Voetius havia sido pastor e compreendia que havia um tempo e um lugar para o método escolástico. O púlpito não era esse lugar, assim como um livro escrito em holandês para membros comuns da Igreja. Comunicar-se efetivamente no nível do indivíduo comum, ao mesmo tempo, em que se pode teologizar com os melhores teólogos — esse é um objetivo que a maioria dos escolásticos reformados almejava alcançar. É algo a se buscar também atualmente.

Paz e graça.
Pr. Dr. Plínio Sousa[5].

[1] – Ten Things I Learned from Reformed Scholasticism (2) By Rev. Wes Bredenhof — https://yinkahdinay.wordpress.com/2016/04/25/ten-things-i-learned-from-reformed-scholasticism-2/ — Acessado em 2016.

[2] – O termo se refere a um “argumento hermético” ou “razão hermética”, que se relaciona com o conceito de um argumento extremamente bem construído e fechado, semelhante ao conceito de um “argumento irrefutável”. Em geral, “hermético” deriva do termo “hermetismo”, que se refere a algo fechado ou isolado, como um recipiente hermético que não permite a entrada ou saída de ar. Aplicado ao contexto argumentativo ou lógico, isso pode sugerir um argumento ou caso que é meticulosamente construído e não deixa brechas para objeções ou refutações — nota do tradutor.

[3] – A hipótese “pré–adamita” ou “pré–adamismo” é a crença teológica de que os humanos (ou criaturas inteligentes, mas não humanas) existiram antes do personagem bíblico Adão. O pré–adamismo é, portanto, distinto da crença abraâmica convencional de que Adão foi o primeiro humano. “Pré–adamita” é usado como um termo, tanto para aqueles humanos (ou animais semelhantes a humanos) que se acredita existirem antes de Adão, quanto para os crentes ou proponentes dessa hipótese — nota do tradutor.

[4] – O termo “Elenctica” deriva do grego “ἐλεγχτικός” (elegktikos), que significa “reprovador” ou “corretivo”. Este termo é relacionado a “ἐλεγχμός” (elegchmos), que significa “refutação” ou “repreensão”. Em Teologia, refere-se a uma abordagem que envolve a correção e a refutação de erros doutrinários. Em 2 Timóteo 3:16, 17: — “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e plenamente habilitado para toda boa obra”. Aqui, o conceito de “repreender” (ou “reprovar”, no sentido de correção) é expresso, que está relacionado à função de um ensino “elegktikos”. Em Tito 1:9: — “Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que também seja capaz de exortar com a sã doutrina e de convencer os que o contradizem”. Neste versículo, o ato de “convencer” inclui a ideia de refutar e corrigir erros doutrinários, que se alinha com a ideia de “elegktikos” — nota do tradutor.

[5] – Tradutor: — notas e significações.

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