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Hebreus 13:1 – 6.

Ao aproximar-se ao final de sua carta o autor passa a ocupar-se de assuntos práticos. Aqui sublinha cinco qualidades essenciais da vida cristã.

[1] – O amor fraternal.

As mesmas circunstâncias da Igreja primitiva ameaçavam algumas vezes o amor fraternal. O próprio fato de tomar tão a peito a religião era em certo sentido um perigo. Numa Igreja ameaçada de fora e desesperadamente ciumenta de dentro, há sempre dois perigos. Em primeiro lugar o perigo de dedicar-se à caça de heresias. O próprio desejo de preservar a fé faz com que os homens tenham o afã de descobrir e eliminar os hereges ou os que se desviaram da fé. Em segundo lugar, o tratamento duro e pouco amável dos que perdendo o domínio de seus nervos quebrantam a fé. A própria necessidade de uma lealdade que não vacila em meio de um mundo pagão e hostil tende a adicionar severidade e rigor ao trato com o homem que em alguma crise não teve a coragem de manter-se firme em sua fé. É algo grande conservar pura a fé, mas quando este desejo nos faz críticos, rígidos, acusadores, ásperos e desatentos destrói-se o amor fraterno e se chega a uma situação pior que a que tentamos evitar. De uma ou outra maneira devemos combinar estas duas atitudes: — “zelo ardente na fé e amabilidade para com o homem que se apartou dela”.

[2] – A hospitalidade.

O mundo antigo amava e tinha em honra a hospitalidade. Os judeus tinham o provérbio: — “Há seis coisas cujo fruto o homem come neste mundo e pelas quais seu corpo se ergue no mundo futuro”. E a lista começa: — “Hospitalidade para com o estrangeiro e visitar os doentes”. Os gregos davam a Zeus, como título favorito o de Zeus Xênios, que significa Zeus o deus dos estrangeiros. O caminhante ou o estrangeiro estavam sob a proteção do rei dos deuses. A hospitalidade, como diz Moffatt, era um artigo da religião antiga. No mundo antigo as pousadas eram sujas, tremendamente caras e de baixa reputação. O grego sempre se estremecia ante uma hospitalidade conseguida por dinheiro. O trabalho de hospedeiro lhe parecia um negócio antinatural. Em “Las Ranas” de Aristófanes, Dioniso pergunta ao Heraclio, discutindo como encontrariam hospedagem, se sabia onde havia menos pulgas. Platão em “Las Leyes” fala do dono de hospedaria que mantém os viajantes como reféns. Não carece de significado que Josefo diga que Raabe, a rameira — a que hospedou os espiões de Josué em Jericó — tinha uma hospedaria. Quando Teofrasto escreveu a biografia do homem despreocupado, disse que era apto para cuidar uma pousada ou dirigir um prostíbulo. Põe ambas as ocupações no mesmo nível. No mundo antigo existia um sistema admirável chamado: — “amizades do forasteiro”. Algumas famílias acordavam que através dos anos, mesmo quando tivessem perdido contato entre si, em qualquer momento que fosse necessário, dariam mutuamente hospedagem. Esta hospitalidade era ainda mais necessária no círculo dos cristãos. Os escravos não tinham casa própria. Os pregadores e profetas ambulantes estavam sempre de viagem. Os cristãos tinham que viajar por assuntos da vida corrente. Tanto pelo preço como pela atmosfera moral as pousadas públicas eram impossíveis. Naqueles dias deveriam existir muitos cristãos isolados e travando batalha a sós. O cristianismo era, e deveria ser ainda, uma religião de portas abertas. O autor de Hebreus diz que aqueles que davam hospitalidade aos forasteiros algumas vezes, sem sabê-lo, hospedaram anjos de Deus. Pensa na época em que um anjo se apresentou a Abraão e a Sara para anunciar o nascimento de um filho (Gênesis 18:1 e seguintes) e do dia em que um anjo foi a Manoá com a mesma notícia (Juízes 13:3 e seguintes).

[3] – A simpatia para com os que padecem tribulação.

É aqui onde vemos a Igreja cristã dos dias primitivos em seu aspecto mais atrativo. Sucedia com frequência que o cristão era arrojado à prisão ou padecia algo pior em razão de sua fé, ou talvez por dívidas, pois os cristãos eram pobres. Também podia acontecer que fossem capturados por piratas ou bandidos. Era então quando a Igreja cristã ficava em ação. Tertuliano em sua Apologia escreve: — “Se acontecia que alguém se encontrasse nas minas ou fosse proscrito (exilado, banido) nas ilhas ou lançado nas prisões por nenhuma outra razão que por sua fidelidade à causa da Igreja de Deus, eram cuidados como meninos de peito”. Aristides, o orador pagão, disse dos cristãos: — “Se ouvirem que algum deles está na prisão ou passa tribulação por causa do nome de seu Cristo, todos lhe prestam ajuda em sua necessidade e se podem resgatá-lo, o põem em liberdade”. Quando Orígenes era jovem foi dito dele: — “Não só estava de parte dos santos mártires em sua prisão e condenação final, mas quando eram conduzidos à morte os acompanhava intrepidamente, arriscando-se”. Algumas vezes os cristãos eram condenados às minas; era como enviá-los a Sibéria ou à Ilha do Diabo. As Constituições Apostólicas estabelecem: — “Se algum cristão é condenado por algum ímpio às minas por causa de Cristo não o descuidem, mas sim enviem-lhe algo do produto de seu esforço e suor para sustentá-lo e recompensar o soldado de Cristo”. Os cristãos buscavam seus irmãos na fé até nos desertos. De fato, havia uma pequena Igreja cristã nas minas de Feno. Algumas vezes os cristãos tinham que ser resgatados de assaltantes e bandidos. As Constituições Apostólicas estabelecem: — “Todo o dinheiro que provém de um trabalho honrado deve ser destinado e distribuído para o resgate dos santos, pagando com eles pelos escravos, cativos e prisioneiros, pessoas dolorosamente ofendidas ou condenadas pelos tiranos”. Quando os assaltantes da Numidia levaram os cristãos, a Igreja de Cartago pagou o equivalente a 2.500 dólares para resgatá-los e prometeu ainda mais. Havia casos em que os cristãos se vendiam como escravos para obter dinheiro para resgatar a seus amigos. Os cristãos estavam dispostos a recorrer ao suborno para poder entrar nos cárceres. Chegaram a ser tão conhecidos por sua ajuda aos encarcerados, que no começo do século IV, o Imperador Licinio, expediu uma nova legislação para que “ninguém mostrasse bondade para com os pacientes da prisão, brindando-lhes alimento e ninguém mostrasse compaixão para com os que ali faleciam de fome”. Adicionava-se que os que fossem descobertos agindo desta maneira deviam ser obrigados a sofrer a mesma sentença e destino daqueles aos quais queriam ajudar. Estes exemplos estão tomados do “Expansion of Christianity” de Harnack; muitos outros poderiam adicionar-se. Jamais na Igreja primitiva algum cristão que sofria por sua fé era negligenciado ou esquecido por seus companheiros.

[4] – A pureza.

Em primeiro termo o laço matrimonial devia ser respeitado universalmente. Isto poderia significar duas posições opostas.

[A] – Existiam ascetas (abstinentes, ermitões) que desprezavam o matrimônio. Alguns chegavam ao extremo de castrar-se para assegurar o que, segundo eles, era a pureza. Orígenes, por exemplo, seguiu este caminho. Até um pagão como Galeno, o médico, anotava que entre os cristãos havia “homens e mulheres que se abstêm de coabitar durante toda sua vida”. O autor de Hebreus insiste contra estes abstinentes em que o laço matrimonial tem que ser tido em honra e não deve ser desprezado.

[B] – Havia outros sempre propensos a recair na imoralidade. O autor usa dois termos: — um denota uma vida de adultério; o outro toda classe de impureza, tais como os vícios contra natureza. Os cristãos introduziram no mundo um novo ideal de pureza. Até os pagãos admitiam isto. Galeno, o médico grego, na passagem que já citamos, prossegue: — “Também contam com indivíduos que pela disciplina, o controle e sua veemente perseguição da virtude alcançaram uma altura não inferior à de verdadeiros filósofos”. Quando Plínio o governador de Bitínia julgava os cristãos e informava a Trajano, o Imperador, deveu admitir, mesmo quando buscasse uma acusação para condená-los, que no encontro do dia de seu Senhor “obrigavam-se a si mesmos por meio de um juramento não a um ato criminal, mas sim a evitar o roubo, a rapina (furto, latrocínio),  e o adultério; a não quebrantar nunca a palavra empenhada nem negar um depósito quando solicitado a que o devolvessem”. Na época primitiva os cristãos exibiam perante o mundo tal pureza que nem sequer seus críticos e inimigos mais acérrimos (implacáveis) encontravam neles falta alguma.

[5] – O contentamento.

O cristão deve estar livre do amor ao dinheiro e contentar-se com o que tem e, por que não deve estar se possui a contínua presença de Deus? O autor cita duas grandes passagens do Antigo Testamento: — Josué 1:5 e Salmos 118:6 para mostrar que o homem de Deus não necessita nada, porque sempre tem consigo a presença e a ajuda de Deus. Nada do que os homens possam lhe dar, nenhum dom que a ambição terrena pode arrancar da vida pode melhorar sua situação.

1 – Os condutores e o condutor — Hebreus 13:7, 8.

Nesta passagem encontra-se implícita uma descrição do verdadeiro condutor de homens.

[1] – O verdadeiro condutor da Igreja prega a Cristo e desta maneira leva aos homens a Cristo; não chama a atenção sobre si mesmo, e sim sobre a pessoa de Jesus Cristo. Leslie Weatherhead narra-nos a história de um menino da escola pública que decidiu entrar no ministério. Foi-lhe perguntado quando tinha assumido essa decisão. Respondeu que por ouvir um sermão na capital da escola. Interrogaram-lhe pelo nome do pregador, mas repôs que não o lembrava; a única coisa que sabia era que esse pregador lhe tinha mostrado a Jesus. O dever do verdadeiro pregador é desaparecer para que Cristo apareça diante dos homens.

[2] – O verdadeiro condutor da Igreja vive em fé e por isso leva os homens a Cristo. O santo foi definido como “o homem em quem Cristo vive de novo”. O dever do verdadeiro pregador não é tanto falar com os homens sobre Cristo como mostrar a Cristo em sua própria vida, obra e ser. Os homens não aceitam tanto o que o homem diz quanto o que é. Sua vida não é uma argumentação verbal, mas sim uma demonstração vivente.

[3] – O verdadeiro condutor morre, se for necessário, permanecendo fiel. Mostra aos homens como viver e no final como morrer. Demonstra uma lealdade que não tem limites. Jesus tendo amado aos seus os amou até o fim. O verdadeiro condutor tendo amado a Jesus o amava até o fim. Sua lealdade jamais detém-se a metade de caminho.

[4] – Por isso o verdadeiro condutor deixa dois patrimônios aos que o seguem: — “um exemplo e uma inspiração”. Quintiliano, o mestre romano de oratória, dizia: — “É algo bom conhecer e manter sempre girando na mente os atos ilustres realizados antigamente”. Epicuro aconselhava continuamente a seus discípulos que lembrassem daqueles que nos tempos antigos tinham vivido virtuosamente. Se houver alguma coisa mais importante que qualquer outra é que a Igreja e o mundo necessitam sempre de uma condução desta classe. Mas agora o autor passa a outro pensamento importante. Está na natureza das coisas que todos os condutores terrestres surjam e passem; têm seu tempo e guiam a sua geração, logo se retiram da cena; têm sua parte no drama da vida e logo desce o pano de fundo. Pelo contrário, Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre. Sua preeminência é permanente; sua liderança é eterna. E nisto reside o segredo da liderança terrena. O verdadeiro condutor é aquele que é ele próprio conduzido por Jesus Cristo. Os homens que fizeram as Igrejas e guiaram a outros no caminho ascendente, foram conduzidos em cada época e geração pelo Cristo eterno e imutável. Aquele que caminhava pelos caminhos da Galiléia é ainda tão poderoso como sempre para esmagar o mal e amar o pecador; e assim como então escolheu os doze para que estivessem com Ele e fossem realizar sua obra, ainda está agora, buscando os que têm que levar os homens Ele, e Ele aos homens.

2 – O sacrifício falso e o verdadeiro — Hebreus 13:9 – 16.

Pode ser que ninguém chegue a descobrir jamais o significado preciso desta passagem. Certamente existia alguma doutrina falsa que se estava difundindo na Igreja e a que se refere esta carta. O autor não precisa descrevê-la para o povo ao qual se dirige, porque era bem conhecida, até alguns tinham caído em suas redes e todos estavam sob sua ameaça. Quanto a no que consistia, só possuímos algumas indicações e podemos fazer deduções e conjecturas, suspeitas, estimativas e argumentações. Começaremos com um fato básico. O autor está convencido de que a verdadeira fortaleza do homem só provém da graça divina e que o que o povo come e bebe não tem nada a ver com sua força espiritual. Assim, pois, na Igreja a qual se dirige a carta havia alguns que davam muita importância às leis alimentares. Eis aqui algumas observações.

[1] – Os judeus tinham suas leis rígidas sobre mantimentos, estabelecidas por extenso em Levítico 11. Todo mundo sabe que nenhum judeu come carne de porco. O judeu cria que podia servir e agradar a Deus comendo ou não comendo certos mantimentos. Possivelmente haveria nesta Igreja cristãos dispostos a abandonar a liberdade cristã para voltar de novo ao jugo das leis e prescrições judias sobre mantimentos, pensando que agindo dessa maneira adicionariam vigor à sua vida espiritual e às suas almas.

[2] – Havia alguns gregos que tinham idéias muito definidas sobre os mantimentos. Já Pitágoras pensava algo pelo estilo; cria na reencarnação; em que a alma do homem passava de corpo em corpo até merecer finalmente a libertação. Essa libertação podia apressar-se pela oração, a meditação, a disciplina e o ascetismo. Por esta razão os pitagóricos eram vegetarianos e se abstinham de carne. Os chamados gnósticos formavam um grupo com as mesmas características. Pensavam que a matéria era completamente má e que o homem devia concentrar-se no espírito, que era inteiramente bom. Portanto criam que o corpo era inteiramente mau e que o homem devia castigá-lo e tratá-lo com o maior rigor e austeridade. Reduziam a alimentação ao mínimo possível e se abstinham também da carne. Eram muitos os gregos que pensavam que pelo que comiam ou deixavam de comer se fortaleciam espiritualmente e libertavam suas almas.

[3] – Mas nada de tudo isto parece ter tido a ver no caso. Aqui o comer e o beber têm algo que ver com o corpo de Cristo. O autor de Hebreus se remonta às prescrições do Dia da Expiação. Agora, segundo essas prescrições, os corpos do bezerro devotado pelos pecados do sumo sacerdote e do bode emissário devotado pelos pecados do povo, deviam ser consumidos inteiramente pelo fogo num lugar fora do acampamento (Levítico 16:27). Eram ofertas pelo pecado e ainda que os que rendiam o culto tivessem desejado comer essa carne não podiam fazê-lo. O autor considera Jesus como o sacrifício perfeito.

O paralelismo é completo porque, além disso, Jesus foi sacrificado fora da porta; efetivamente, o Calvário estava fora dos muros de Jerusalém. As crucificações sempre se levavam a cabo fora de uma população. Jesus também foi a oferta pelo pecado em favor dos homens. Em consequência, assim como ninguém podia comer a carne da oferta do pecado no Dia da Expiação, tampouco ninguém pode comer a carne de Cristo. Pode ser que aqui tenhamos a chave; é possível que existisse nessa Igreja um pequeno grupo que, seja no sacramento, seja em alguma comida comum, consagrassem seus mantimentos a Jesus e pretendessem de fato e verdadeiramente comer o corpo de Cristo. Poderiam ter-se convencido a si mesmos de que pelo fato de consagrar seus mantimentos a Cristo, o corpo dEle entrava neles. Isto era efetivamente o que as religiões gregas pensavam de seus próprios deuses. Quando um grego sacrificava recebia parte da carne.

Com frequência fazia uma festa para si mesmo e seus amigos dentro do templo, onde teve lugar o sacrifício, crendo que quando ingeria a carne do sacrifício, o deus que estava na carne sacrificada entrava em sua pessoa. Com a carne a vida do deus entrava em seu corpo e em seu coração. Bem pode ser que alguns gregos tivessem introduzido no cristianismo suas próprias idéias e falassem de comer o corpo de Cristo. O autor cria com toda a força de seu ser que nenhuma comida podia introduzir a Jesus Cristo no interior do homem; que Cristo jamais pode entrar num homem a não ser pela graça.

É muito provável que tenhamos aqui uma reação contra a demasiada ênfase nos sacramentos. É notável que o autor jamais menciona os sacramentos, que não parecem entrar absolutamente dentro de sua colocação. É provável que até naquela época tão primitiva existissem os que tinham uma concepção muito mecânica dos sacramentos e esqueciam que nenhum sacramento do mundo é útil por si mesmo; o único proveito está na graça de Deus acolhida pela fé do homem. Não é a carne, mas sim a fé e a graça o que importa. Mas esta colocação estranha dava o que pensar a nosso autor.

Cristo tinha sido crucificado fora da porta como proscrito e expulso pelos homens; foi acusado de ser um criminoso; foi contado entre os transgressores. Aqui o autor descobre uma imagem: — “também nós devemos nos separar da vida do mundo, nos submeter a sair fora das portas do mundo, carregar sobre nós a mesma recriminação que Cristo carregou. A separação, o isolamento e a humilhação podem sobrevir sobre o cristão como sobrevieram sobre Cristo”.

Os cristãos devem estar preparados para suportar o mesmo tratamento do mundo que suportou seu Mestre. Mas o autor vai mais além. Se no sacramento o cristão não pode oferecer de novo o sacrifício de Cristo, qual é o sacrifício que pode oferecer? O autor diz que várias coisas.

[A] – Pode oferecer a Deus seu contínuo louvor e ação de graças.

Os povos antigos sustentavam às vezes que uma oferta de gratidão era mais aceita a Deus que uma oferta pelo pecado, porque quando um homem a oferecia, buscava obter algo de Deus, o perdão de seus pecados, enquanto que uma oferta de gratidão era uma oferta incondicional de seu coração agradecido. O sacrifício de ação de graças é aquele que todos podem oferecer e ao qual devem sentir-se obrigados.

[B] – Pode oferecer uma profissão pública e prazerosa de sua fé em Cristo.

Esta é uma oferenda de lealdade. O cristão sempre pode oferecer a Deus uma vida que não se envergonha de mostrar de quem é e a quem serve. Não envergonhar-se jamais do Evangelho de Jesus Cristo é também uma oferta.

[C] – O cristão pode oferecer a Deus como sacrifício obras de amor e o compartilhar com seu próximo.

De fato, isto era algo que o judeu sabia muito bem. Depois do ano 70 de nossa era os sacrifícios do templo chegaram a seu fim. Já não eram possíveis, porque nesse ano o templo tinha sido destruído. O que ficou? Os rabinos ensinavam que nesses dias tardios em que o ritual do templo tinha concluído, “a Teologia, a oração, a penitência, o estudo da Lei e a caridade eram ainda sacrifícios equivalentes aos do antigo ritual”. O rabino Jônatas Ben Zakkai se consolava nesses tristes dias crendo que “com a prática da caridade ainda possuía um sacrifício válido pelo pecado”. Um escritor cristão antigo diz: — “Espero que seu coração renda frutos: — que dê culto ao Deus Criador de tudo, e que lhe ofereça continuamente suas orações por meio da compaixão porque a compaixão que os homens mostram pelos homens é um sacrifício incruento e santo a Deus”. Finalmente, Jesus mesmo disse: — “Sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mateus 25:40). E o melhor sacrifício de todos é ajudar a um dos filhos de Deus que padece necessidade.

3 – Obediência e oração — Hebreus 13:17 – 20.

Aqui o autor estabelece o dever da congregação para com seus condutores presentes e ausentes. Deve-se obedecer aos condutores presentes. Uma Igreja é uma democracia, mas não uma democracia enlouquecida; deve prestar obediência aos condutores que escolheu como seus guias. Esta obediência não tem por objeto gratificar o sentido de poder dos mesmos ou incrementar seu prestígio.

Deve-se obedecer para que no final do dia os dirigentes vejam que não perderam nenhuma das almas encomendadas a seu cuidado e a seu cargo. A maior alegria do condutor de uma comunidade cristã é ver que aqueles aos quais conduz estão firmados no caminho cristão. Como escrevia João: — “Não tenho maior alegria do que esta, a de ouvir que meus filhos andam na verdade” (3 João 4).

A maior tristeza do condutor de uma comunidade cristã é que aqueles aos quais conduz se separem do caminho de Deus. Para o condutor ausente o dever da congregação é orar. Sempre é um dever cristão levar a nossos seres amados ausentes perante o trono da graça divina. É um dever cristão lembrar diariamente perante Deus a todos os que têm a responsabilidade de dirigir e a autoridade.

Quando Mr. Baldwin foi designado Primeiro Ministro de Grã–Bretanha, seus amigos se apinharam a seu redor para felicitá-lo. Sua resposta às felicitações foi: — “Não são suas felicitações o que necessito; são suas orações”. Devemos render respeito e obediência aos que têm autoridade sobre nós quando estão presentes; se estiverem ausentes devemos lembrá-los sempre em nossas orações.

4 – Uma oração, uma saudação e uma bênção — Hebreus 13:20 – 24.

Na grande oração dos dois primeiros versículos desta passagem o autor traça uma imagem perfeita de Deus e de Jesus.

[1] – Deus é o Deus de paz.

Até na situação mais turbulenta e angustiante Deus pode brindar paz. Em toda comunidade dividida a divisão deve-se ao esquecimento de Deus; só a memória da presença de Deus pode fazer com que retorne a paz. Quando a mente e o coração de um homem estão perturbados, quando se encontra dividido entre as duas partes de sua própria natureza, só colocando sua vida sob o domínio de Deus pode provar a paz. Só Deus pode colocar o homem numa devida relação consigo mesmo, com o próximo e com a eternidade: — “só o Deus de paz pode nos dar a paz conosco mesmos, com os demais e com Ele”.

[2] – Deus é o Deus da vida.

Foi Deus aquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos. O amor e o poder de Deus é a única coisa que pode dar ao homem paz na vida e triunfo na morte. Jesus morreu para obedecer à vontade divina e a mesma vontade de Deus o arrancou de novo da morte. Para o homem que obedece à vontade de Deus não existe algo assim como um desastre final; até a mesma morte está vencida.

[3] – Deus é o Deus que nos mostra sua vontade e nos capacita para realizá-la; Deus jamais nos atribui uma tarefa sem nos dar o poder de realizá-la.

Com a visão envia também o poder. Jamais nos pede que levemos a cabo uma tarefa só com nossos recursos; se fosse assim, bem poderíamos nos intimidar com as enormes exigências da vida cristã. Quando nos manda, Ele o faz, armando-nos e nos equipando com todo o necessário. Aqui também se encontra uma tríplice imagem de Jesus.

[A] – Jesus é o grande pastor de seu rebanho.

A imagem de Jesus como o Bom Pastor é algo que nos é muito caro, mas embora pareça estranho, Paulo nunca a usa e o autor de Hebreus só a menciona uma vez. Existe uma simpática lenda sobre Moisés quando fugiu do Egito e cuidou dos rebanhos de Jetro no deserto.

Uma ovelha do rebanho se tinha extraviado. Moisés a seguiu pacientemente e a achou bebendo num arroio (córrego) da montanha. Aproximou-se e a colocou sobre seus ombros dizendo: — “Então foi porque estava sedenta que te extraviaste”. E sem zangar-se pela fadiga que a ovelha lhe tinha causado, levou-a de volta. E quando Deus o viu exclamou: — “Se este homem Moisés tiver tanta compaixão para com uma ovelha extraviada, é precisamente aquele que necessito para caudilho (comandante) de meu povo”.

Um pastor é alguém que está disposto a dar sua vida por suas ovelhas; que suporta a simplicidade das ovelhas e jamais deixa de amá-las. Isto é o que Jesus faz por nós.

[B] – Jesus é aquele que fundou uma Nova Aliança, quer dizer, aquele que fez possível a nova relação entre Deus e o homem.

É Jesus quem nos mostrou como é Deus, e quem nos abriu a porta. Ele apartou o terror e manifestou o amor de Deus.

[C] – Jesus é aquele que morreu.

Para estabelecer esta nova relação, para mostrar aos homens como era Deus, e para abrir o caminho para Ele, requereu-se a vida de Jesus. Nossa nova relação com Deus custou o sangue de Jesus. Ele morreu para nos conduzir a Deus e à vida. Desta maneira termina a carta com algumas saudações pessoais. O autor se desculpa em parte pela extensão de seu escrito. Se tivesse tratado devidamente todos os seus temas nunca teria terminado. Em realidade, a carta é breve — Moffatt assinala que se pode lê-la em voz alta em menos de uma hora — em comparação com a grandeza das verdades eternas e infinitas que aborda. Ninguém sabe o significado da referência a Timóteo, mas soa como se também este tivesse estado detento por causa de Jesus Cristo. E assim finaliza a carta com uma bênção. Desde o início falou da graça de Cristo que abre o caminho a Deus. Agora conclui com uma oração para que essa graça maravilhosa descanse sobre nós.

Paz e graça.
Pr. Me. Plínio Sousa.

[1] – Comentário de Hebreus por William Barclay, p. 199 – 211, Tradução: Carlos Biagini, Título original em inglês: The Letter to The Hebrews.

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