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A maioria das apresentações evangélicas da doutrina das Escrituras são implicitamente trinitárias. Eles identificam o Pai como o autor principal das Escrituras, o Filho como o assunto central das Escrituras e o Espírito como o agente imediato da inspiração profética e apostólica. “A Escritura é Deus Pai pregando a Deus o Filho por Deus o Espírito”, para usar a famosa descrição de J. I. Packer. Além disso, os evangélicos reconhecem que o Evangelho de Jesus Cristo, o assunto central das Escrituras, é implicitamente trinitário.

O Evangelho diz respeito ao amor de Deus Pai pelos pecadores eleitos, o sofrimento e a glória de Deus o Filho Encarnado e a comunhão dos santos em Deus o Espírito. O Evangelho é trinitário na sua raiz e nos seus frutos.

Por mais salutar que seja esse trinitarianismo implícito, há mais a ser dito sobre a relação entre a Trindade e as Escrituras. A Trindade não é simplesmente o autor primário da Sagrada Escritura e a estrutura orgânica do Evangelho. A Trindade é a dimensão profunda da Sagrada Escritura, seu principal assunto e fim. O livro recente de Matthew Bates, “The Birth of the Trinity: — Jesus, God, and the Spirit in New Testament and Early Christian Interpretation of the Old Testament” — “O nascimento da Trindade: — Jesus, Deus e o Espírito no Novo Testamento e a Interpretação Cristã Primitiva do Antigo Testamento”, abre uma janela esclarecedora para a dimensão trinitária de profundidade da Sagrada Escritura.

O livro de Bates se concentra na “exegese prosopológica” cristã primitiva do Antigo Testamento. A exegese prosopológica é uma “estratégia de leitura centrada na pessoa” que procura resolver as identidades ambíguas de oradores e audiências em textos do Antigo Testamento à luz da clara determinação de suas identidades no Evangelho apostólico. Como Bates demonstra, tanto o Novo Testamento quanto os primeiros intérpretes cristãos se engajaram nesse tipo de exegese. Por exemplo, Marcos 12:35 – 37[2], esclarece as identidades de orador e ouvinte no Salmos 110 como Deus Pai falando com Deus Filho a respeito de sua geração eterna e domínio messiânico. E nos esclarece que Davi ouviu essa conversa entre o Pai e o Filho “no Espírito Santo”.

A exegese prosopológica do Novo Testamento e do cristianismo primitivo ouve por acaso a história do “Deus conversacional” – falante –, à medida que se desenrola desde sua raiz na geração eterna do Filho e nomeação como Messias, através da missão encarnada do Filho, morte e ressurreição, até seu triunfo final no estabelecimento do Filho à mão direita do Pai.

No Salmos 110:3, 4, ouvimos o Pai dizer: — “[…] desde a madre da alva, tu tens o orvalho da tua mocidade[3], e ouvimos o Pai designar este Filho eternamente gerado como Rei–Sacerdote messiânico: — “[…] tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque” (compare com o Salmos 2:6 – 9).

No Salmos 40:6 – 8[4], ouvimos o Filho falando ao Pai do corpo que o Pai preparou para Ele e do desejo do Filho de fazer a vontade do Pai em sua missão encarnada (veja também Hebreus 10:5 – 7).

No Salmos 22, ouvimos o grito de agonia do Filho na cruz — “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que te alongas do meu auxílio e das palavras do meu bramido? Deus meu, eu clamo de dia, e tu não me ouves; de noite, e não tenho sossego” (v. 1, 2) — e ouvimos o Filho louvar o Pai no meio de uma congregação de pessoas depois de o Pai o ter ressuscitado dentre os mortos — “Então declararei o teu nome aos meus irmãos; louvar-te-ei no meio da congregação. Vós, que temeis ao Senhor, louvai-o; todos vós, semente de Jacó, glorificai-o; e temei-o todos vós, semente de Israel. Porque não desprezou nem abominou a aflição do aflito, nem escondeu dEle o seu rosto; antes, quando Ele clamou, o ouviu. O meu louvor será de ti na grande congregação; pagarei os meus votos perante os que o temem” (v. 22 – 25).

No Salmos 45:6, 7, nós ouvimos o Filho sendo abordado enquanto o Pai o estabelece em seu trono eterno depois que Ele cumpriu obedientemente a comissão do Pai: — “O teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo; o cetro do teu reino é um cetro de eqüidade. Tu amas a justiça e odeias a impiedade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria mais do que a teus companheiros” (conferir também Hebreus 1:8, 9).

Tal estratégia de leitura revela a dimensão trinitária de profundidade das Escrituras de pelo menos duas maneiras.

Primeiro, revela que a Sagrada Escritura não é apenas a palavra de Deus para nós; a Sagrada Escritura também é testemunha da palavra de Deus para Deus. Como é maravilhoso ler as Escrituras Sagradas como uma ocasião inspirada pelo Espírito para ouvir a conversa intratrinitária[5] de Deus!

Segundo, essa estratégia de leitura nos ajuda a ver que a grande história de amor que se desenrola nas páginas das Escrituras Sagradas não é simplesmente a história do amor de Deus pelos pecadores eleitos.

É a história do amor do Pai por seu Filho eterno e de seu desejo de torná-lo o chefe de uma humanidade redimida, e é a história do amor do Filho pelo Pai e de sua vontade de se encarnar e suportar o sofrimento — até a morte na cruz — por causa de seu zelo pela glória do Pai entre as nações (Salmos 69:9; João 2:17).

A exegese prosopológica nos ajuda a ver que a história do amor de Deus por nós é apenas uma nuance sobre o tema maior do amor do Pai pelo Filho no Espírito.

A exegese prosopológica é uma estratégia de leitura centrada na pessoa que nos ajuda a ver o assunto centrado na pessoa e o fim centrado na pessoa das Escrituras.

Ensina-nos que o propósito da revelação, e da escrituração da revelação, é desvendar a vida intratrinitária de comunicação e comunhão de Deus e nos acolher no abraço dessa vida – com grande custo para o próprio Deus trino (Mateus 11:25 – 27; 1 João 1:3, 4).

A Sagrada Escritura é o produto do Espírito Santo, que capacitou Profetas e Apóstolos a ouvir as palavras amáveis ​​do Pai ao Filho e do Filho ao Pai, e que nos capacita a ouvir o testemunho dos Profetas e Apóstolos para que, por meio do testemunho deles, nós também possamos ter comunhão com o Pai por meio do Filho no Espírito.

Paz e graça.
Pr. Me. Plínio Sousa[6].

[1] – Scott R. Swain. “The trinitarian depth of Scripture”, Reformation21 – https://www.reformation21.org/blogs/the-trinitarian-depth-of-scrip.php Acessado em 21/01/22.

[2] – “E, falando Jesus, dizia, ensinando no templo: — Como dizem os escribas que o Cristo é filho de Davi? O próprio Davi disse pelo Espírito Santo: — O Senhor disse ao meu Senhor: — Assenta-te à minha direita até que eu ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés. Pois, se Davi mesmo lhe chama Senhor, como é logo seu filho? E a grande multidão o ouvia de boa vontade”.

[3] – “[…] desde o ventre, antes que a estrela da manhã aparecesse, eu te gerei”.

[4] – “Sacrifício e oferta não quiseste; os meus ouvidos abriste; holocausto e expiação pelo pecado não reclamaste. Então disse: — Eis aqui venho; no rolo do livro de mim está escrito. Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua Lei está dentro do meu coração”.

[5] – Relacionamento da Santíssima Trindade, trabalhando antes da criação, o Pai, o Filho e o Espírito Santo se direcionando na mesma essência: — Deus. Significa intimidade, igualdade face à face, além de mostrar a distinção entre Pai e Filho e Espírito Santo.

[6] – Tradutor e Revisor: — notas e significações.

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