“Proclamarei o decreto: — o Senhor me disse: — Tu és meu Filho, eu hoje te gerei” (Salmos 2:7).
“E nós vos anunciamos que a promessa que foi feita aos pais, Deus a cumpriu a nós, seus filhos, ressuscitando a Jesus; como também está escrito no salmo segundo: — Meu filho és tu, hoje te gerei” (Atos 13:32, 33).
“Porque, a qual dos anjos disse jamais: — Tu és meu Filho, hoje te gerei? E outra vez: — Eu lhe serei por Pai, e Ele me será por Filho?” (Hebreus 1:5).
1 – Exegético explicativo.
Há atualmente, aqueles que negam a doutrina da geração eterna do Filho, Jesus Cristo. Outros, realizam más análises textuais, isolando-as e criando assim confusões acerca do que de fato é o ensino da geração eterna do Filho.
Com o objetivo de sermos fiéis ao analisarmos os textos acima mencionados, devemos atentar primeiramente para a “exegese prosopológica” cristã primitiva do Antigo Testamento. A exegese prosopológica é uma “estratégia de leitura centrada na pessoa” que procura resolver as identidades ambíguas de oradores e audiências em textos do Antigo Testamento explicadas à luz da clara determinação de suas identidades no Evangelho apostólico.
Por exemplo, Marcos 12:35 – 37[1], esclarece as identidades de orador e ouvinte no Salmos 110 como “Deus Pai falando com Deus Filho a respeito de sua geração eterna e domínio messiânico. E nos esclarece que Davi ouviu essa conversa entre o Pai e o Filho ‘no Espírito Santo’”.
Outro exemplo, é que no Salmos 109:3, 4, ouvimos o Pai dizer: — “No dia de teu nascimento, já possuis a realeza no esplendor da santidade; semelhante ao orvalho, eu te gerei antes da aurora[2]”, e ouvimos o Pai designar este Filho eternamente gerado como Rei–Sacerdote messiânico: — “[…] tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque” (compare com o Salmos 2:6 – 9).
No Salmos 40:6 – 8[3], ouvimos o Filho falando ao Pai do corpo que o Pai preparou para Ele e do desejo do Filho de fazer a vontade do Pai em sua missão encarnada (veja também Hebreus 10:5 – 7).
Deste modo, o Salmos 2:7 textualmente expressa a glória eterna de Cristo como Filho de Deus, infinitamente acima dos anjos, que foi publicamente declarada quando Deus o levantou dos mortos e o exaltou como Rei. As passagens de Atos 13:32, 33 e Hebreus 1:5, 6, expressamente revelam a plenitude daquilo que foi revelado ocultamente no salmo segundo. Por essa razão, o Apóstolo Paulo diz que Cristo é “Declarado Filho de Deus em poder, […] pela ressurreição dentre os mortos” (Romanos 1:4), perceba que Paulo diz que Cristo como Filho de Deus foi “declarado” (ὁρίζω) publicamente por ocasião da ressurreição — “pela ressurreição dentre os mortos” —, claramente constitui-se a mensagem do Evangelho, que anteriormente é colocada como sendo “O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos; aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória” (Colossenses 1:26, 27). Na Bíblia, um “mistério” (mystḗrion) não é algo incognoscível. Pelo contrário, é o que só pode ser conhecido por meio da revelação, ou seja, porque Deus o revela.
Por esse motivo, Salmos 2:7 à luz de Atos 13:32, 33 revela apenas “o mistério que esteve oculto” na expressão “Tu és meu Filho, eu hoje te gerei”. Vale sublinhar, que foi algo profetizado sobre a vitória que o Messias haveria de ter sobre a rebelião das nações (v. 8).
No dia em que o Senhor o ungiu e o designou como Rei, Ele o “gerou” como Filho e lhe deu o direito de governar o mundo. Com relação a Davi, isso se refere ao decreto de Deus em 2 Samuel 7 — “e confirmarei o trono do seu reino para sempre […] teu trono será firme para sempre” (v. 13, 16) — e, com relação ao Messias, de quem Davi era um tipo, ele é interpretado como se referindo à eternidade (veja Hebreus 1:5; 5:5; cf. 1:2, 3), na qual Cristo, como o Filho, é gerado pelo Pai, isto é, na qual Ele é gerado como esplendor da glória de Deus e a imagem expressa de sua natureza (Colossenses 2:9). Além disso, de acordo com o texto de Atos 13:33 e de Romanos 1:4, Ele provou ser o Filho de Deus com “poder pela ressurreição dentre os mortos”. Em Miquéias 5:2 — “E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel, e cujas saídas são ‘desde os tempos antigos’, ‘desde os dias da eternidade’” —, encontramos uma idéia semelhante. Aquele que há de reinar sobre Israel, e é proveniente da pequena cidade de Belém, já existia “desde os tempos antigos”. Seu reinado da parte de Deus tem origem nos “dias antigos” (que pode ser igualmente traduzido por “os dias da eternidade”).
Por conseguinte, observamos que Mateus outorga escrituristicamente, à luz do contexto do salmo segundo, especialmente, o versículo 8[4], que Jesus reconheceu este poder quando comissionou os discípulos a fazerem discípulos de todas as “nações” (Mateus 28:18 – 20). Portanto, claramente, a interpretação de Atos 13:32, 33 — vinculada ao Salmos 2:7, 8 —, não é que a “filiação eterna de Cristo veio a plena floração em sua ressurreição”, mas que “Ele é publicamente ‘declarado’ como sendo o Filho de Deus eternamente gerado”.
O verbo “ὁρίζω” (horízō) traz a idéia de “apontar” ou “declarar”, isto é, “Cristo é publicamente ‘declarado’ como sendo o Filho de Deus eternamente gerado”. O verbo “horízō” se vincula com “horos”, que significa “fronteira”, e “horion”, que significa “região”. Originalmente, significava “estabelecer limites” (limitar fronteiras), e, portanto, podemos deduzir como sendo “a idéia de estabelecer limites[5]”; “horízō”, aqui, é “declarar publicamente algo que foi decretado de antemão, ‘pela ressurreição (de Cristo) dentre os mortos’ (cf. Romanos 1:4; Atos 13:32, 33), outrora profetizado como o Messias que haveria de vir da descendência de Davi, ‘segundo a carne’, tendo vitória sobre a rebelião das nações (cf. Romanos 1:3), recitando o decreto da glória eterna do Filho de Deus exaltado como Rei sobre toda a terra (Salmos 2:8) e como Redentor de todos aqueles ‘bem–aventurados que nEle confiam (Salmos 2:12), e que proclamam a mensagem do Evangelho, afirmando que por Ele ‘é justificado todo aquele que crê’” (Atos 13:39).
Vale ressaltar, que em Romanos 1:3, 4, parece que Paulo cita um credo cristão primitivo, para mostrar que está vinculado com a tradição dos Pais. Neste credo, o modo humano da existência de Jesus — isto é, “da descendência de Davi, segundo a carne” — se contrasta com o modo divino de sua existência — isto é, “designado Filho de Deus, em poder, segundo o Espírito de santidade”. A palavra “designado” sugere um avanço: — “Jesus é o Messias davídico”, mas muito mais também: — “é o Filho eternamente gerado de Deus ‘em poder’”. Além disto, sugere uma sequência no tempo, isto é, “nasceu como homem, mas, pela ressurreição, foi designado Filho de Deus”. Muitos estudiosos alemães vêem nesta sequência uma cristologia primitiva, de adoção, porque “na Igreja mais primitiva, o messiado de Jesus datava da ressurreição[6]”, como alguns, atualmente, tentam suscitar equivocadamente. Devemos nos lembrar, porém, que o Apóstolo Paulo não indica em lugar algum que ele pensasse que Jesus fosse instalado como Filho na sua ressurreição, pela primeira vez (cf. Romanos 8:3). Sustenta que Jesus era o Filho de Deus desde toda a eternidade. É por isso que, o teólogo alemão e estudioso do Novo Testamento, Karl Ludwig Schmidt (1891 – 1956) argumenta que “horízō não tem o significado aqui de ‘instituir’ ou ‘designar’, e, sim, o de ‘determinar de antemão’[7]”. O. Michel tem razão, sem dúvida, ao escrever no seu comentário sobre Romanos, “Paulo aqui se ocupa com uma verdade dupla, com sua compreensão de Jesus tanto no seu aspecto humano como no divino[8]”. Portanto, podemos afirmar que a ressurreição é uma revelação da filiação divina, ou como declaramos: — “da eterna geração do Filho”.
Embora Jesus seja o eterno e divino Filho de Deus (Marcos 1:11; João 3:16), a declaração da sua filiação redentora, profetizada em Salmos 2:7, lhe foi conferida no tempo, quando Ele completou a sua obra messiânica (culminada pela ressurreição). Por essa razão, os crentes não se tornam divinos e nem participam na eterna e divina filiação de Cristo, mas a sua adoção como filhos de Deus significa que eles participam da filiação redentora de Cristo através de sua união com o “Autor da salvação deles” (Hebreus 2:10; cf. Hebreus 3:14; Romanos 8:29). Como escreveu o Reformador e teólogo francês, João Calvino (1509 – 1564), comentando o Salmo 2:7: — “Isso o Apóstolo (usando Hebreus 1:5) sábia e diligentemente considera, ao informar-nos que tal linguagem jamais foi usada em relação a qualquer dos anjos. Davi, individualmente considerado, era inferior aos anjos, mas até onde representava a Pessoa de Cristo, ele é com sobejas razões preferido muito acima deles. Pela expressão, Filho de Deus, neste lugar, não devemos, pois, entender um filho entre muitos, e, sim, seu Filho Unigênito, o único a possuir a preeminência no céu e na terra”. Calvino também explica a expressão “hoje te gerei” à luz de Atos 13:32, 33, da qual, robustece o aclaramento da correlação entre a ressurreição e a interpretação do salmo segundo; quando Deus diz, “eu te gerei”, escreve Calvino: — “[…] Davi foi gerado por Deus quando claramente se manifestou a escolha dele para ser rei. As palavras, neste dia, portanto, denota o tempo dessa manifestação; pois que se tornou notório que ele se fez rei por nomeação divina, ele surgiu como aquele que havia sido finalmente gerado de Deus, já que uma honra tão imensurável não poderia pertencer a uma pessoa isoladamente. A mesma explicação das palavras deve aplicar-se a Cristo. Não se diz que Ele é gerado em qualquer outro sentido, senão que o Pai testifica dEle como sendo seu próprio Filho. Esta passagem, estou consciente, tem sido explicada por muitos como se referindo à eterna geração de Cristo; e das palavras, ‘neste dia’, arrazoam ingenuamente como se denotassem um ato eterno sem qualquer relação a tempo. Paulo, porém, que é o mais fiel e melhor qualificado intérprete desta profecia, em Atos 13:33, chama nossa atenção para a manifestação da glória celestial de Cristo, da qual temos falado. A expressão, ‘ser gerado’, não implica, portanto, que Ele, então, ‘começou a ser o Filho de Deus’, mas que sua existência então se fez manifesta ao mundo. Finalmente, esse ‘gerar’ não deve ser inferido do amor mútuo que existe entre o Pai e o Filho; apenas significa que, aquele que esteve oculto desde o princípio no secreto seio do Pai, que mais tarde esteve obscuramente representado sob a Lei, se fez notório como o Filho de Deus a partir do tempo quando se manifestou com marcas autênticas e evidentes de Filiação, segundo o quê se encontra expresso em João 1:14: — ‘E vimos sua glória, glória como do Unigênito do Pai’. Entretanto, devemos, ao mesmo tempo, ter em mente o que Paulo ensina (Romanos 1:4), ou seja, que Ele foi declarado Filho de Deus, ‘com poder’, quando ressuscitou dos mortos e, portanto, o que aqui está expresso é principalmente uma alusão ao dia da ressurreição. Porém, seja qual for o tempo específico aqui aludido, o Espírito Santo realça o solene e oportuno tempo de sua manifestação, justamente como Ele posteriormente faz nestas palavras: — ‘Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nEle’ (Salmos 118:24)”. Então, podemos afirmar, peremptoriamente, segundo Calvino, que “ser gerado, não implica, portanto, que Ele, então, ‘começou a ser o Filho de Deus’ (mediante a ressurreição), mas que sua existência (eterna) então se fez manifesta ao mundo (publicamente); a ressurreição, portanto, é o ato divino de declarar publicamente que Cristo é o eterno Filho de Deus”.
Outrossim, declarações semelhantes que se expressam em linguagem diferente ocorrem frequentemente no Novo Testamento, como sendo a sua exaltação a consequência da sua obediência no sofrimento, e consiste na sua designação como soberano, não somente sobre a comunidade dos crentes como também sobre o universo inteiro. Por exemplo, Romanos 1:4: — “designado (horisthentos) Filho de Deus” (verbo “horízō”) e 1 Timóteo 3:16: — “recebido (anelēmphthē) na glória”. Nesta exaltação de 1 Timóteo 3:16 Jesus é “vindicado[9]”, porque em Romanos 1:4 Jesus é anunciado publicamente como sendo verdadeiramente o Filho eternamente gerado “em Deus”.
O texto de Romanos 3:25, 26[10], bem no início, nos diz que foi a vontade de Deus expor publicamente o seu Filho na cruz do Calvário. Deus o ergueu em um madeiro como maldito para que todos o vissem (cf. Gálatas 4:4). De acordo com o texto de Romanos 3, Deus escolheu esse lugar dos mais públicos para o sacrifício de seu justo Filho para que viesse a vindicar a si mesmo ao demonstrar de uma vez por todas que Ele é um Deus justo.
Concluímos, que a passagem de Atos 13:33 é outro caso ambíguo das Escrituras. Num primeiro olhar, a citação de Salmos 2:7 parece dar a entender que Jesus foi “gerado” como Filho de Deus por ocasião da ressurreição. Contudo, podemos concordar com o que escreveu o estudioso escocês e Professor Emérito de Exegese do Novo Testamento na Universidade de Aberdeen, Ian Howard Marshall (1934 – 2015): — “Sustentar que tanto o desenvolvimento do conceito no sermão do Apóstolo Paulo quanto a analogia com Sabedoria 2:13 – 18[11] mostram que Salmos 2:7 não foi empregado para estabelecer a filiação divina de Jesus com base na ressurreição, e sim para demonstrar que, por ocasião da ressurreição, Deus confirmou a justiça de seu Filho obediente. Desse modo, a passagem associa a filiação à obediência do Jesus terreno, não ao fato da ressurreição. Concluímos, portanto, que não existe no Novo Testamento nenhum dado concreto para a idéia de que Jesus assumiu seu papel de Filho de Deus apenas na ressurreição[12]”.
Devemos concordar com a belíssima contribuição que faz Ian Howard Marshall, discorrendo exegeticamente a interpretação tendo em conta o texto, contexto e correlações veterotestamentárias. Sendo esse o sentido original de interpretação dos textos[13] acima mencionados, portanto, o único entendimento reputado e ratificado pelos precedentes bíblicos.
O teólogo reformado holandês, Herman Bavinck (1854 –1921), escreveu que: — “[…] no caso de Cristo, o nome — ‘Filho de Deus’ — certamente adquire um significado muito mais profundo. De fato, como mediador e rei, Ele é às vezes chamado de ‘Filho de Deus’ em um sentido teocrático (Lucas 1:35). Nem mesmo nesse caso, porém, a idéia adocionista de que, de acordo com sua natureza divina, Cristo é Filho por geração, e, de acordo com sua natureza humana, Ele é Filho por adoção (como é ensinado pelos adocionistas e remonstrantes)[14], tem algum apoio na Escritura. Entretanto, Cristo não foi primeiro adotado no tempo – como um rei em Israel – para ser o Filho de Deus. Ele também não é chamado de Filho de Deus por causa de seu nascimento sobrenatural, como os socinianos ensinaram e Hofmann[15] ainda tenta argumentar. Ele tampouco tem esse nome em um sentido ético como outros também acreditam[16]. Ele também não se tornou Filho de Deus como resultado de sua mediação e ressurreição, uma interpretação em apoio da qual João 10:34 – 36; Atos 13:32, 33; Romanos 1:4 são citados. Mas Ele é o Filho de Deus em um sentido metafísico: — ‘por natureza e desde a eternidade’. Ele é exaltado muito acima dos anjos e dos profetas (Mateus 13:32; 21:27; 22:2) e mantém uma relação exclusiva com Deus (Mateus 11:27). Ele é o Filho amado em quem o Pai se apraz (Mateus 3:17; 17:5; Marcos 1:11; 9:7; Lucas 3:22; 9:35), o Filho Unigênito de Deus (João 1:18; 3:16; 1 João 4:9 e seguintes), o próprio Filho de Deus (Romanos 8:32), o Filho eterno (João 17:5, 24; Hebreus 1:5 e seguintes; 5:5, 6), a quem o Pai concedeu ter vida em si mesmo (João 5:26). Ele é igual ao Pai em conhecimento (Mateus 11:27), honra (João 5:23), poder criador e recriador (João 1:3; 5:21, 27), atividade (João 10:28 – 30) e domínio (Mateus 11:27; Lucas 10:22; 22:29; João 16:15; 17:10) e foi condenado à morte precisamente por causa de sua filiação (João 10:33; Mateus 26:63 e seguintes)[17]”.
2 – A eterna geração do Filho.
A eterna geração do Filho é espiritual, ela não cria divisão e separação. Portanto, a analogia humana mais notável é pensamento e discurso. Assim como a mente humana objetiva a si mesma em palavras, assim também Deus expressa todo o seu ser no “Logos” (Colossenses 1:19; 2:9). Para Deus, gerar é falar e, logicamente, seu discurso é eterno. Por essa razão, afirmamos que o Filho é gerado do próprio ser do Pai. Desde a eternidade o Filho é “verdadeiro Deus de verdadeiro Deus”.
Como escreveu o Doutor da Igreja, Atanásio de Alexandria (296 – 373 d.C.): — “Assim, olhando o céu, e vendo sua ordem, sua beleza e a luz dos astros, é possível formar uma idéia do ‘Logos’ que é o Autor desta ordem; igualmente, quando se pensa no ‘Logos’ de Deus, é necessário pensar também em Deus seu Pai: — procedente dEle, o Logos é com razão chamado intérprete e mensageiro do Pai; e isto também pode-se vê-lo segundo o que sucede em nós. Efetivamente, quando o homem produz o seu verbo, concebemos que a fonte deste verbo é o espírito; e, portanto, nossa atenção a este verbo, nosso raciocínio vê o espírito do qual é o sinal. Com mais forte razão, e por uma consideração que a supera incomparavelmente, vendo o poder do Verbo, concebemos uma idéia do seu bom Pai, como disse o próprio Salvador: — “Quem me vê, vê também o Pai” (João 14:9)[18]”.
A geração do Filho não pode ocorrer no tempo: — “o Filho não tem início, mas existe eternamente com Deus — ‘o Verbo estava com Deus’ (João 1:1)”. Portanto, a geração do Filho de Deus só pode ser geração eterna. Assim como é da natureza da luz brilhar, de forma que ela não pode existir sem brilhar, assim também “o Pai não pode existir sem o Filho; assim como não há Salvador fora de Deus (Isaías 43:11), podemos deduzir logicamente pelo texto de Isaías que não há o Filho fora do Pai, porque o Filho é o Salvador”. Como escreveu Orígenes de Alexandria: — “Não houve tempo em que o Filho não existia[19]”. Ele é eterno. O Pai não é Pai antes da existência do Filho, mas mediante a existência do Filho. Não há separação: — “o Pai não existe sem o Filho e o Filho não pode existir sem o Pai”. O Pai e o Filho têm todos os atributos divinos em comum, co–iguais e co–eternos, como afirma a Escritura — “o Filho e o Pai são um” (João 10:30), com isso afirma-se a “unidade da Divindade”.
Não é juntamente, mas em Deus, que adoramos o Filho. O Filho tem a mesma sabedoria, verdade e razão que o Pai. Como expressa a Confissão de Fé de Westminster (II.3): — “Na unidade da Divindade há três Pessoas de uma mesma substância, poder e eternidade — Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, o Pai não é de ninguém – não é nem gerado, nem procedente; o Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo é eternamente procedente do Pai e do Filho[20]”.
Ser gerado não significa provir da vontade do Pai, mas da substância do Pai. Em consequência, o Filho de Deus não pode ser chamado apenas criatura do Pai, visto que tem com Ele a plenitude da Divindade. Deus sendo espírito é indivisível, sua geração, portanto, “é comparada com a irradiação da luz do sol, ou exteriorização do pensamento que vem da alma”, como escreveu Atanásio. Pai e Filho são dois, mas têm a mesma natureza. Quando Jesus diz: — “O Pai é maior do que eu” (João 14:28), não revela, como dizia Ário[21], a superioridade do Pai sobre o Filho nem deve ser entendida no sentido subordinacionista, mas significa: — “o Pai é a origem, o Filho, a derivação[22]”, como explica Atanásio. Como Deus não é um princípio sem vida, mas de vida eterna, a “geração” e a “existência” do Filho também são eternas. Nem para o Pai nem para o Filho houve um tempo em que Ele não existia. Esse Filho não pode ser uma criatura e não foi gerado pela vontade de Deus, mas é gerado de dentro de seu ser. Portanto, a distinção entre Ser (essência[23]) e Pessoa (subsistência[24]) e entre as pessoas entre si se esgotou em suas relações recíprocas no fato de ser Pai, Filho e Espírito, nas seguintes propriedades: — “paternidade” (não–geração), “filiação” (geração) e “santificação” (procedência), é o que afirmamos e ensinamos como doutrina da Igreja.
3 – Filho — geração ou filiação.
Não há minimamente a possibilidade de não se conhecer profundamente essa doutrina, porque a qualificação especial da segunda Pessoa da Trindade é a filiação, e essa é a nossa confissão de fé — “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16:16). Nas Escrituras, Cristo recebe variados nomes que indicam sua relação com o Pai, tais como: — “Verbo (João 1:1, 2), Sabedoria (Provérbios 8:22 – 36; cf. 1 Coríntios 1:24, 30; Colossenses 2:3), Logos (1 João 1:1), o Primogênito (Colossenses 1:15), o Unigênito e único Filho (João 3:16), a imagem de Deus, imagem, substância, a expressão (cf. Hebreus 1:3; Colossenses 1:19)”.
A doutrina da “geração eterna”, assim chamada pela primeira vez pelo teólogo Orígenes de Alexandria (185 – 253 d.C.), foi baseada nesses nomes e em uns poucos textos citados acima. Ao usar esses termos, estamos, é claro, falando numa linguagem humana e, portanto, imperfeita e limitada, o que deve nos deixar cautelosos. Porém, sem passarmos por irrefletidos no momento de perscrutarmos o sentido original dos textos, nem de sermos acusados de desajuizados quando o expormos e nem colocados como pertencentes ao grupo dos negligentes e maus teólogos (teologastros!). Temos o direito de usarmos essa linguagem simples, contudo, temos igualmente o dever de sermos fiéis as Escrituras Sagradas. Pois, assim como a Bíblia fala analogicamente do ouvido, do olho e da boca de Deus (antropomorfismos[25]), assim também a geração humana é uma analogia e imagem do ato divino pelo qual o Pai concede ao Filho “ter vida em si mesmo”. No entanto, quando recorremos a essa imagem, devemos ter o cuidado de remover todas as associações com a imperfeição e a sensualidade.
A geração de um ser humano é imperfeita e defeituosa — não podemos entender pelos mesmos termos tal doutrina sem se extirpar os vícios aparentes e ocultos. Um marido precisa de uma esposa para gerar um filho, por exemplo. Nenhum homem jamais pode comunicar plenamente sua imagem, toda a sua natureza a um filho ou mesmo a muitos filhos. Um homem se torna pai apenas no curso do tempo e depois deixa de ser pai, e um filho logo se torna totalmente independente e autoconfiante em relação ao seu pai. Mas não é assim com Deus. “A geração ocorre também no ser divino”. A fecundidade de Deus é um bonito tema, que frequentemente reaparece nos Pais da Igreja. Aprendemos que a substância pode ser referida a Deus enquanto significar existir por si mesmo. Assim, sendo um em três pessoas, Deus é “um conjunto de relações intradivinas (ou intratrinitárias) que brotam de sua ‘autofecundidade’”. Deus não é uma substância abstrata, fixa, monadária, solitária, mas “uma plenitude de vida”. É próprio da sua natureza (οὐσία) ser gerativo (aquele que gera) e frutífero. Deus é capaz de expansão, desdobramento e comunicação. Aqueles que negam essa produtividade fecunda não levam a sério o fato de que Deus é uma plenitude infinita de vida bem–aventurada. Todas essas pessoas caem em um conceito deísta abstrato de Deus ou, para compensar essa esterilidade ao modo panteísta, incluem a vida do mundo no ser divino. Sem a Trindade, nem mesmo o ato da criação é concebível. Pois, se Deus não pode se comunicar, Ele é uma luz escura, uma fonte seca, incapaz de se manifestar para se comunicar com suas criaturas. Não obstante, essa geração deve ser concebida em termos divinos (eternos)[26].
Em primeiro lugar, ela é espiritual. Os arianos, opondo-se à idéia de geração divina, objetaram que toda geração necessariamente traz consigo separação e divisão, paixão e emanação. Isso seria correto se a geração fosse física, sensual e referente à criatura. No entanto, ela é espiritual, divina, e, portanto, simples, sem divisão ou separação. Ela ocorre sem fluxo ou divisão. Embora dê origem a distinção e distribuição no ser divino, ela não cria divergência e divisão[27].
Atanásio escreve: — “Como Deus é simples, o Pai do Filho é indivisível e sem paixão, pois, embora, no caso dos seres humanos, falemos de fluxo e influxo, não podemos atribuir essas coisas a algo que é incorpóreo[28]”. A confissão de fé de Westminster (II.1) expõe assim: — “Há um só Deus vivo e verdadeiro, o qual é infinito em seu ser e perfeições. Ele é um espírito puríssimo, invisível, sem corpo, membros ou paixões; é imutável, imenso, eterno, incompreensível — onipotente, onisciente, santíssimo, completamente livre e absoluto, fazendo tudo para a sua própria glória e segundo o conselho da sua própria vontade, que é reta e imutável”. Como mencionado acima, a analogia mais notável da “geração divina” é a do pensamento e a do discurso, e a própria Escritura sugere isso quando chama o Filho de “Logos” (Discurso, Palavra, Razão). Assim como a mente humana se objetiva no discurso, assim também Deus expressa todo o seu ser no “Logos” (Jesus Cristo). Mas aqui, também, devemos observar a diferença. Os seres humanos precisam de muitas palavras para expressar suas idéias. Essas palavras são sons e, portanto, são materiais, relacionadas ao sentido. Elas não têm existência por si mesmas. No entanto, quando Deus fala, Ele se expressa totalmente na Pessoa única do “Logos”, a quem Ele também “concedeu ter vida em si mesmo” (João 5:26[29]; João 14:6; 11:25), Jesus é a própria vida (ressurreição) e sabedoria (verdade).
Em segundo lugar, portanto, a “geração divina” implica que o Pai gera o Filho do ser do Pai, “Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, e não feito, consubstanciai ao Pai”, como diz o símbolo niceno. Os arianos, em contraste, argumentavam que o Filho tinha sido produzido pela vontade do Pai a partir do nada. Isso, porém, não é geração, mas criação, como João Damasceno (675 – 749 d.C.) salienta. Criação é “trazer à existência a partir de fora, não a partir da substância do Criador, algo criado e feito totalmente dessemelhante (em substância)”, enquanto “gerar” significa “produzir, da substância do gerador, uma geração semelhante em substância ao gerador[30]”. O Filho não é uma criatura, mas é Deus sobre todos, bendito para sempre (Romanos 9:5). Portanto, Ele não foi produzido pela vontade do Pai a partir do nada (criatura) e no tempo (pela ressurreição como alguns afirmam equivocadamente, nem pode, pois é eterno). Em vez disso, “Ele é gerado a partir do ser do Pai na eternidade”. Assim, em vez de interpretar “geração” como uma obra real, um desempenho, do Pai, devemos atribuir ao Pai uma “natureza gerativa (autofecunda)”. Isso não significa dizer, é claro, que a geração é uma emanação inconsciente e desprovida de vontade, que ocorre independente da vontade e do poder do Pai. Ela não é um ato de uma vontade decretiva antecedente de Deus, como a criação, mas um ato que é tão divinamente natural para o Pai que sua “vontade concomitante (coexistente)” tem prazer perfeito nela. Ela é uma manifestação daquilo que é verdadeiramente expressivo de sua natureza e essência, e, logo, também de seu conhecimento, vontade e poder, de fato, de todas as suas virtudes[31].
Em terceiro lugar, portanto, a Igreja confessa sua crença no caráter eterno dessa geração. Os arianos diziam que houve um tempo em que o Filho não existia. Eles recorriam especialmente às palavras “o Senhor me produziu” ou “me criou”, em Provérbios 8:22, e enfatizavam a antinomia entre os termos “eterno” e “geração”. Entretanto, se o Pai e o Filho tiverem esses nomes em um sentido metafórico, como a Escritura inquestionavelmente ensina, segue-se que a geração em questão tem de ser eterna. Pois, se o Filho não for eterno, é claro que Deus também não é eterno como Pai. Nesse caso, Ele era Deus antes de ser Pai, e somente mais tarde – no tempo – se tornou Pai. Assim, “a rejeição da geração eterna do Filho envolve não somente uma injustiça à divindade do Filho, mas também à do Pai”. Isso o torna mutável, priva-o de sua natureza divina, da eternidade de sua paternidade e deixa sem explicação como Deus pode verdadeira e propriamente ser chamado de “Pai” no tempo se a base para que isso seja feito não está eternamente presente em sua natureza[32]. “Devemos, por isso, conceber essa geração como sendo eterna no verdadeiro sentido da palavra”. Ela não é algo que foi completado e terminado em algum ponto da eternidade, mas um ato imutável de Deus, sempre completa e eternamente contínua. “Assim como é natural para o sol brilhar e para uma fonte jorrar sua água, assim também é natural para o Pai gerar o Filho”. O Pai não é e nunca foi não–gerativo: — Ele gera eternamente. “O Pai não gerou o Filho por um ato singular e depois o libertou de sua ‘gênese’, mas gera-o perpetuamente[33]”. Para Deus, “gerar” é falar, e seu falar é eterno, como já afirmado aqui.
4 – A centralidade do artigo II – Credo Apostólico — Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor.
Não é somente necessário crerem os cristãos que existe um só Deus, e que Ele é Criador do céu, da terra e de todas as coisas (artigo I – Credo Apostólico), mas também é necessário crerem que Deus é Pai e que Jesus Cristo é seu verdadeiro Filho. Esse mistério não é um mito, mas uma verdade certa e comprovada pela palavra de Deus no monte santo da Transfiguração, conforme a afirmação de Pedro: — “Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos a sua majestade. Porquanto Ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando da magnífica glória lhe foi dirigida a seguinte voz: — Este é o meu Filho amado, em quem me tenho comprazido. E ouvimos esta voz dirigida do céu, estando nós com Ele no monte santo” (2 Pedro 1:16 – 18). O próprio Jesus Cristo muitas vezes chama a Deus como seu Pai, e, também, denominava-se Filho de Deus. Os Apóstolos e os santos Pais colocaram entre os artigos de fé que Jesus Cristo é Filho de Deus, quando definiram este artigo do credo: — “E em Jesus Cristo seu Filho”, isto é, Filho de Deus. Mas existiram alguns heréticos que acreditaram de um modo perverso nessa verdade de fé. Fotino[34] (376 d.C.), um deles, declarou que Jesus Cristo não é Filho de Deus senão como os outros homens bons o são, os quais, por viverem bem, merecem ser chamados filhos de Deus por adoção, enquanto fazem a vontade de Deus. Do mesmo modo, dizem eles, Jesus Cristo, que viveu bem e fez a vontade de Deus, mereceu ser chamado de Filho de Deus. O mesmo herético queria que Cristo não tivesse existido antes da Virgem Maria, mas que só começasse a existir quando nela foi concebido. Cometeu Fotino dois erros: — “um, porque não disse que Ele era Filho de Deus segundo a natureza; o outro, porque disse que Ele começou a existir, conforme todo o seu ser, no tempo, enquanto a nossa fé afirma que Ele é por natureza Filho de Deus e eterno”. Ora, essas duas verdades encontram-se claramente expressas na Sagrada Escritura, opostas que são ao que ele afirma. Jesus Cristo é uma Pessoa com duas naturezas, Ele é plenamente Deus e plenamente homem, como escreveu João: — “O Verbo se fez carne”. O Verbo não se uniu a uma pessoa humana (não há base na Escritura para afirmar personalidade dupla em Cristo), o Verbo assumiu a natureza humana sem abandonar a divina.
Contra o primeiro erro, declara a Escritura que Jesus Cristo não só é Filho de Deus, mas também Filho Unigênito[35]: — “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho Unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou” (João 1:18). Contra o segundo, é-nos revelado: — “Disse–lhes Jesus: — Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou” (João 8:58). Ora, é certo que Abraão existiu antes da Virgem Maria. Em outras palavras, antes de Maria e Abraão existirem, eu já existia — portanto, incriado e eterno Jesus é. Por esse motivo, os santos Pais acrescentaram, em outro símbolo[36], contra o primeiro erro: — “Filho de Deus Unigênito”; e, contra o segundo: — “nascido do Pai antes de todos os séculos”.
Sabélio[37] (215 d.C.), embora tivesse dito que Cristo existiu antes da Virgem Maria, afirmou que a Pessoa do Pai outra não era que a do Filho, e que o próprio Pai se encarnou. Desse modo, a Pessoa do Pai seria a mesma que a do Filho. Mas isso é um erro, porque destrói a Trindade das Pessoas. Contra esse erro, há a autoridade do Apóstolo João, que nos relatou as palavras do próprio Cristo: — “E, se na verdade julgo, o meu juízo é verdadeiro, porque não sou eu só, mas eu e o Pai que me enviou” (João 8:16). Ora, é evidente que ninguém pode ser enviado por si mesmo. Eis porque Sabélio errou. Acrescentou-se por isso, no símbolo dos Pais: — “Deus de Deus, Luz de Luz”; isto é, “Deus Filho de Deus Pai; Filho que é Luz, Luz que procede do Pai, que também é Luz”. É nessas verdades que devemos crer.
Ário[38] (256 – 336 d.C.), embora tivesse afirmado que Jesus Cristo existira antes da Virgem Maria e que era uma a Pessoa do Pai, outra, a do Filho, atribuiu, ao ser de Cristo, três erros: — “primeiro, que Cristo foi criatura; segundo, que Ele foi feito por Deus como a mais nobre das criaturas, não desde a eternidade, mas no tempo; terceiro, que não havia uma só natureza de Deus Filho com Deus Pai, e, por esse motivo, Cristo não era verdadeiro Deus”. Tais afirmações são evidentemente errôneas, visto que são contrárias à autoridade da Escritura. É-nos revelado no Evangelho de João: — “Eu e o Pai somos um” (João 10:30), isto é, pela natureza (unidade na Divindade). Ora, como o Pai sempre existiu, do mesmo modo o Filho; como o Pai é verdadeiro Deus, assim também o Filho. Em oposição à afirmação de Ário, isto é, que Cristo é criatura, está declarado no símbolo dos Pais: — “gerado, não feito (não criado)”. Contra o erro propalado de que Ele não era da mesma substância do Pai, foi acrescentado no símbolo: — “consubstancial com o Pai”. Está, pois, esclarecido por qual razão devemos crer que Jesus Cristo é o Filho Unigênito de Deus, e verdadeiro Filho de Deus; que sempre existiu com o Pai; que uma é a Pessoa do Filho, outra, a do Pai; que Ele tem uma só natureza com o Pai.
Cremos nessas verdades, aqui, pela fé; conhecê-las-emos, porém, na vida eterna, por uma perfeita visão. Para nossa consolação, acrescentemos algumas palavras a essas verdades. Devemos saber que há diversos modos de geração, conforme a diversidade dos seres[39]. “A geração em Deus é diferente da geração nos outros seres”. Por isso, não podemos chegar a conhecer a geração de Deus, a não ser por meio da geração de criaturas que mais se aproximam de Deus e que mais se assemelham a Ele.
Ora, como foi dito, nada se assemelha tanto a Deus, como a alma humana. Há, na alma, uma espécie de geração, quando o homem conhece alguma coisa pela própria alma, que se chama conceito intelectivo (fundado na inteligência). Esse conceito (efeito da concepção) tem a sua origem da própria alma, como de um pai. Chama-se verbo (isto é, palavra) da inteligência ou do homem.
“A alma, portanto, gera o seu verbo, pelo conhecimento”.
O Filho de Deus, também, nada mais é que o Verbo de Deus, não como se fosse um verbo (uma palavra) já pronunciado exteriormente, porque assim seria transitório, mas como um verbo (uma palavra) concebido no interior. Eis porque o próprio Verbo de Deus possui uma só natureza de Deus, e é igual a Deus. O bem–aventurado João, quando falou do Verbo de Deus, destruiu as três heresias acima definidas: — “a de Fotino (notório por negar a encarnação de Cristo), quando disse: — No princípio era o Verbo; a de Sabélio (notório por opôs-se a doutrina da Igreja, a Trindade, onde há três ‘pessoas’ no Ser Divino, quando disse: — e o verbo estava em Deus; e a de Ário (notório por negar a consubstancialidade entre Deus Filho [Jesus] e Deus Pai), quando disse: — e o Verbo era Deus”. Mas o Verbo (a Palavra) existe diversamente em nós e em Deus. “Em nós, o verbo é um acidente; em Deus, o Verbo de Deus mais identifica-se com o próprio Deus, pois nada há em Deus que não seja essência de Deus”.
A geração do Filho é geração eterna.
Paz e graça.
Pr. Dr. Plínio Sousa[40].
[1] – “E, falando Jesus, dizia, ensinando no templo: — Como dizem os escribas que o Cristo é filho de Davi? O próprio Davi disse pelo Espírito Santo: — O Senhor disse ao meu Senhor: — Assenta-te à minha direita até que eu ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés. Pois, se Davi mesmo lhe chama Senhor, como é logo seu filho? E a grande multidão o ouvia de boa vontade” (ACF).
[2] – Tradução da BC. Antes da aurora significa “antes da origem dos tempos” (eternidade).
[3] – “Sacrifício e oferta não quiseste; os meus ouvidos abriste; holocausto e expiação pelo pecado não reclamaste. Então disse: — Eis aqui venho; no rolo do livro de mim está escrito. Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua Lei está dentro do meu coração” (ACF).
[4] – “Pede-me, e eu te darei os gentios por herança, e os fins da terra por tua possessão” (Salmos 2:8).
[5] – No século V a.C., se acha frequentemente em Ésqu. e Hdt. Em Sof., os deuses estabelecem leis, e em Eur. determinam o destino humano. Platão e Dem. transferem a força espacial de horízō para relacionamentos temporais. Mais tarde, isto ocorre também em Josefo. O verbo composto aphorizō (de Sof. e Platão em diante), tem o sentido, primeiramente de “separar”, e, depois, de “escolher”, “determinar”.
[6] – R. Bultmann, Theology of the New Testament, I, 1952, p. 27.
[7] – “Theological Dictionary of the New Testament” (TDNT), V, p. 453.
[8] – KEK 412, 1963, p. 40.
[9] – O Dicionário Webster’s define “vindicação” como a defesa de qualquer coisa; uma justificação contra a negação ou a censura, ou contra objeções ou acusações.
[10] – “Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que Ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Romanos 3:25, 26).
[11] – “Ele se gaba de conhecer a Deus, e se chama a si mesmo Filho do Senhor! Sua existência é uma censura às nossas idéias basta sua vista para nos importunar. Sua vida, com efeito, não se parece com as outras, e os seus caminhos são muito diferentes. Ele nos tem por uma moeda de mau quilate, e afasta-se de nossos caminhos como de manchas. Julga feliz a morte do justo, e gloria-se de ter Deus por Pai. Vejamos, pois, se suas palavras são verdadeiras, e experimentemos o que acontecerá quando da sua morte, porque, se o justo é Filho de Deus, Deus o defenderá, e o tirará das mãos dos seus adversários”.
[12] – “É contra todo o sentido do Novo Testamento atribuir a origem da filiação de Cristo à sua ressurreição” (Commentary Critical and Explanatory on the Whole Bible [1871]. Comentário editado por Robert Jamieson [Gênesis — Ester], A. R. Fausset [Jó — Malaquias; Coríntios — Apocalipse] e D. Brown [Mateus — Romanos] e publicado pela primeira vez em 1871. Robert Jamieson [1802 – 1880] foi ministro da Igreja da Escócia e autor religioso, que serviu como moderador da Assembleia Geral — O moderador da Assembléia Geral é o presidente de uma Assembléia Geral, o mais alto tribunal de uma Igreja presbiteriana ou reformada — em 1872, Andrew Robert Fausset [1821 – 1910] foi um clérigo anglicano irlandês, agora conhecido como comentarista bíblico e David Brown [1803 – 1897] era filho de um livreiro que foi duas vezes reitor da cidade. Ele era um ministro da Igreja Livre da Escócia que serviu como moderador da Assembléia Geral [1885 – 1886]. Ele foi co–autor do Comentário “Jamieson–Fausset–Brown [JFB] sobre a Bíblia inteira).
[13] – Salmos 2:7; Atos 13:32, 33; Hebreus 1:4, 5.
[14] – Cf. Möller, “A doptianism us”, in PRE3, I, 180 – 186; Catecismo Racoviano; Confissão Remonstrante, art. 3; *Apol. Conf. Art. 3; P. van Limborch, Theol. christ., II, 17, 10; *B. S. Cremer, cf. Archief voor nederlandsche Kerkgeschiedenis, VIII, 419 – 428.
[15] – J. C. K. von Hofmann, Der Schriftbeweis, I, 116 e seguintes.
[16] – B. Weiss, Lehrbuch der biblischen Theologie des Neuen Testaments, §17; A. Ritschl, The Christian Doctrine of Justification and Reconciliation (Clifton, N. J.: Reference Book Publishers, 1966), II, 59; J. H. Scholten, De Leer der Hervomde Kerk in Hare Grondbeginselen, 2a. ed., 2 vols. (Leiden: P. Engels, 1850 – 1851), II, 206.
[17] – Herman Bavinck. Dogmática Reformada — Deus e a criação, Editora Cultura Cristã, 2003, p. 282 – 283.
[18] – Contra os Pagãos, p. 55.
[19] – De princ. I, 2, 2, 4; Contra Celsus, VIII, 12.
[20] – Mateus 3:16, 17; 28, 19; 2 Coríntios 13:14; João 1:14, 18; 15:26; Gálatas 4:6.
[21] – Heresiarca do século IV, fundador da doutrina Arianista, tida como heresia. O Arianismo foi uma visão cristológica antitrinitária sustentada pelos seguidores de Ário, herege de Alexandria nos primeiros tempos da Igreja primitiva, que negava a consubstancialidade entre Jesus e Deus Pai, que os igualasse. Jesus então, seria subordinado a Deus Pai, sendo Ele (Jesus) não o próprio Deus em si e por si mesmo. Segundo Ário, só existe um Deus e Jesus é seu filho e não o próprio Deus.
[22] – Sobre a Encarnação, 3,3; 4.
[23] – Na Teologia trinitária, resumindo, essência é: — “[…] uma realidade perfeitamente individualizada, única e idêntica para as três pessoas da Trindade”.
[24] – A Trindade é substância individual de natureza racional, então dela não se pode dizer que é uma só pessoa. Pessoa não deve ser colocado na individualidade, mas na existência. Sendo assim, pessoa é o modo de existir, distinto de outros. Isso permite dizer que Deus não é uma pessoa, mas o Pai é uma Pessoa, o Filho é uma Pessoa e o Espírito Santo é uma Pessoa — distintos enquanto pessoas, unos em essência e substância. Afirmaram que a palavra “pessoa” indica mais que um papel, mas a plena e concreta realidade da natureza divina, a idéia de subsistência. “Pessoa” pode ser aplicado à Trindade dado que não deve ser entendido com relação à aplicabilidade com a pessoa humana, mas entendido a partir de Deus, da “[…] relação de autodoação total ao outro, já que a pessoa divina nada mais é do que relação”.
[25] – O Antropomorfismo é um conceito filosófico e teológico que está associado as formas humanas, ou seja, ele atribui características, sejam físicas, sentimentos, emoções (Antropomorfismo está associado ao conceito também de “Antropopatia” – este significa a atribuição de sentimentos humanos à Deus), pensamentos, ações ou comportamentos humanos a Deus. Do grego, o termo “antropomorfismo” é a junção dos termos “anthropo” (homem) e “morfhe” (forma).
[26] – Herman Bavinck. Dogmática Reformada — Deus e a criação, Editora Cultura Cristã, 2003, p. 316.
[27] – Herman Bavinck. Dogmática Reformada — Deus e a criação, Editora Cultura Cristã, 2003, p. 316.
[28] – Atanásio, Defence of the Nicene Definition, 11; idem, against the Arians, I, 16, 28 e seguintes.
[29] – “Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo” (ACF).
[30] – João Damasceno, The Orthodox Faith, I, 8; cf. Atanásio, Defence of the Nicene Definition, 13 – 26; idem, Against the Arians, I, 5, 6.
[31] – Herman Bavinck. Dogmática Reformada — Deus e a criação, Editora Cultura Cristã, 2003, p. 316 – 317. Atanásio, “Against the Arians”, III, 59 – 67; Gregório de Nazianzo, “Theologica Orations”, III, 6 e seguintes; Cirilo de Alexandria, “De trin.”, II. Nota do organizador: — não está claro se Bavinck está se referindo ao tratado “Thesaurus de sancta et consubstantiali Trinitate”, de Cirilo (PG 75:9 – 656) ou ao “Sancta et consubstantiali Trinitate” (PG 75:657 – 1124). De acordo com Quasten (Patrology, III, 126), o terceiro tratado trinitário em Migne, “De sancta et vivifica trinitate” (PG 75:1147 – 90), “não é de Cirilo, mas de Teodoreto de Chipre”. Conferir “Patrology”, III, 546; Hilário, “De trinitate”, III, 4; Agostinho, “The Trinity”, XV, 20; P. Lombardo, “Sent.”, I, dist. 6, 7; Tomás de Aquino, “Summa theol.”, I, q. 41, art. 2.
[32] – Atanásio, Defence of the Nicene Definition, 26 e seguintes; idem, On the Opinion of Dionysius, 14 e seguintes; idem, Against the Arians, I, 12 e seguintes; Basílio, Against Eunomius, II, 14 e seguintes; idem, On the Spirit, 14 e seguintes; Gregório de Nazianzo, Theological Orations, III, 3 e seguintes.
[33] – Orígenes, S.P.N. Cyrilli archiepiscopi Alexandrini Homiliae XIX in Ieremiam prophetam, IX, 4; idem, On First Principles, I, 2, 2.
[34] – Fotino (376 d.C.) foi um heresiarca cristão e um bispo de Sirmio, na província romana da Panônia, notório por negar a Encarnação de Jesus Cristo.
[35] – Algumas vezes o Novo Testamento se refere a Cristo como o “Unigênito” (monogenés) do Pai (João 1:14, 18; 3:16). Mas a palavra “μονογενής”, que é derivada de duas palavras gregas (“μόνος” [mono] — “um” e “γένος” [genos] — “tipo”) significa “um de um tipo”, e tem a ver com a “exclusividade” de Jesus Cristo.
[36] – Sendo a fé, por parte do homem, primeiramente um ato de conhecimento da inteligência, devem ter sentido as palavras que exprimem as suas verdades. Por isso a Igreja, desde os tempos Apostólicos, exigia, dos que procuravam o batismo, inteligência das palavras da fé, que eram definidas. Para que essa finalidade fosse alcançada, formularam–se sínteses das verdades fundamentais da fé com palavras de sentido preciso, compreensível e tradicional. Eram os símbolos da fé. A palavra “símbolo”, que primitivamente, na língua grega, significava um objeto que se dividia em duas partes, como contra–senha para identificação posterior, na tradição católica designava o resumo das verdades da fé que identificavam a religião de Jesus Cristo. Como começava pela palavra “credo”, esta tornou–se sinônimo de símbolo. Na antiguidade o credo era unido ao ritual do catecumenato, isto é, na preparação para o batismo: — os “electi” (eleitos) acabavam a sua preparação recebendo os ensinamentos do Símbolo da Fé (“Traditio Symboli” – “entrega de símbolo”), e depois deviam recitá–lo diante do bispo (“redditio symbolo” – “devolução do símbolo”). Os símbolos mais importantes são os seguintes: — [1] – Símbolo dos Apóstolos — É o mais antigo Símbolo da Igreja, chamado por Tertuliano de “Regula Fidei”, cujas origens vêm dos tempos dos Apóstolos, conforme a tradição. A sua mais primitiva fórmula, baseada nas Escrituras, seria a seguinte: — “Creio no Pai Todo–Poderoso; em Jesus Cristo, nosso Salvador; no Espírito Santo Paráclito, na Santa Igreja e na remissão dos pecados”. Como se vê, nele estavam contidos os mistérios da Trindade, da Encarnação e da Redenção. A fórmula atual do símbolo tem suas origens no século III. Consta de 12 artigos; [2] – Símbolo de Santo Atanásio: — É uma profissão de fé mais ampla, atribuída a Santo Atanásio, mas provavelmente foi transmitida por Santo Ambrósio (século IV) que a recebera da tradição. Procura definir com bastante exatidão o mistério da Santíssima Trindade; [3] – Símbolo de Nicéia: — Elaborado e aprovado no Concílio Ecumênico de Nicéia. O Concílio de Nicéia foi convocado pelo Imperador Constantino para pôr fim à heresia do Arianismo. Presidiu–o o bispo Ósio e os representantes do Papa Silvestre. Participaram dele mais 300 bispos. Na sessão de 19 de junho de 325 d.C., foi aprovado o “Símbolo de Nicéia”, onde é definido que o Filho é da mesma natureza do Pai: — “Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus do verdadeiro Deus, gerado, não criado, da idêntica natureza do Pai”; [4] – Símbolo Niceno–Constantinopolitano: — Elaborado e aprovado no Concílio Ecumênico de Constantinopla, reunido nesta cidade no ano de 381 d.C., reproduz o Símbolo de Nicéia, fazendo alguns acréscimos, principalmente com relação à Terceira Pessoa da Trindade: — “e (nós cremos) no Espírito Santo, Senhor e vivificador, procedente do Pai, que é adorado e glorificado juntamente com o Pai e o Filho, procedente do Pai, que é adorado e glorificado juntamente como Pai e o Filho, e que falou pelos Profetas”. É na Igreja Oriental a fórmula única de profissão de fé. Há outras profissões de fé na Igreja antiga, uma mais, outras menos desenvolvidas, mas todas concordes no sentido das palavras e nos mistérios da fé.
[37] – Sabélio (século II) não aceitava a Trindade em Deus, mas confundia as Pessoas numa só unidade em Deus. Para ele, as Pessoas são modos em que Deus se manifesta. A sua heresia é denominada “Monarquianismo Modalista”, e, também, “Patripassionismo”, ou, ainda, “Sabelianismo”. Admitia três manifestações de Deus: — como Pai, na Criação e Legislação; como Filho, na Redenção, e, como Espírito Santo, na Obra de Santificação.
[38] – O Arianismo foi a mais perigosa heresia dos primitivos tempos do Cristianismo. Foi seu criador um sacerdote de Alexandria, chamado Ario (336 d.C.). Ensinava ele um certo “Subordicianismo”, heresia mais antiga, que afirmava ser o Filho subordinado ao Pai, negando–lhe, desse modo, identidade de natureza. Para Ário, o Filho era um ser divino de segunda ordem, o qual, por ser desprovido dos atributos absolutos da divindade, podia realizar a criação e a redenção. Há na doutrina de Ário dependência da mentalidade neoplatônica reinante no seu tempo. O Arianismo ensinava que “houve um tempo em que o Verbo não era”, e “Ele (o Verbo) provém do não ser”. Portanto, a Segunda Pessoa seria uma criatura. Condenada a heresia pelo Concílio de Nicéia, não cessou a sua obra deletéria nos meios cristãos, tomando novo alento com os dois Imperadores Arianos Constâncio (337 – 361 d.C.) e Valente (364 – 378 d.C.). O Imperador Teodório, o Grande (379 – 395 d.C.), reafirmando a ortodoxia católica, conseguiu atenuar os males do Arianismo, que por mais de 50 anos dilaceraram a Igreja. Foi definitivamente condenado pelo Concílio de Constantinopla, de 381 d.C., após polêmicas violentas, lutas e separações entre os católicos. Se a Tradição ortodoxa teve a seu lado grandes doutores da Igreja como Atanásio, Basílio, Gregório de Lauzianze e grandes bispos, os Arianos conseguiram envolver muitos bispos e católicos nas suas ambíguas e imprecisas fórmulas heterodoxas. A heresia tomou tal proporções nos meios católicos que Jerônimo chegou a descrever a situação com essas palavras: — “Lastimou–se todo o orbe (o mundo) e admirou–se porque estava Ariano”. O orbe simboliza o domínio de Cristo (a cruz) sobre o mundo (o orbe), literalmente sujeito por um governante terreno (ou, por vezes, de um ser celestial como um anjo). Quando é seguro pela própria figura de Cristo, o objeto é conhecido no Ocidente como “Salvator Mundi” (Salvador do Mundo).
[39] – Tomás de Aquino esclarece–nos como a possessão do Verbo na Trindade é uma geração, donde a Segunda Pessoa denominar–se também Filho. No texto latino a palavra e o conceito são expressos pelo mesmo termo — “verbum” — podendo–se então mais de perto seguir o pensamento do Doutor Angélico. Define Tomás de Aquino “geração”, conforme realiza–se nos seres vivos, como sendo a “origem de um ser vivo, de um princípio vivo conjunto”. Aplica a definição à possessão da Segunda Pessoa: — “Portanto a possessão do Verbo em Deus tem a formalidade de uma geração. Ele procede à semelhança de ação inteligível, que é uma operação vital; de um princípio vivo conjunto, como foi dito anteriormente (isto é, da inteligência divina), e de modo semelhante, porque o conceito intelectivo (fundado na inteligência) é semelhante coisa conhecida; e na mesma natureza, porque em Deus ser e conhecer são a mesma realidade. Por conseguinte a processão (que o Filho provém do Pai) do Verbo em Deus chama–se “geração”, e o próprio Verbo procedente chama–se Filho” (Suma Teológica. I:7, 2; cf. I:27, 1; cf. I:34, 2). A questão é tratada com notável clareza na Suma Teológica em linguagem teológica, da qual neste sermão percebe–se a influência.
[40] – Autor: — revisor, notas e significações.