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Hebreus 1:1 – 3.

Esta é a peça oratória grega mais eloquente de todo o Novo Testamento. Qualquer orador clássico grego teria estado orgulhoso de tê-la escrito. O autor da carta aos Hebreus utilizou aqui todos os recursos de palavras e ritmo que a bela e flexível língua grega permitia. Em grego os dois advérbios que se traduzem muitas vezes e de muitas maneiras são palavras únicas (“polymeros” e “polytropos”). O prefixo grego poly– nestas combinações significa muitos. Os grandes oradores gregos, como Demóstenes, o maior de todos eles, tinham o hábito de intercalar tão sonoros adjetivos no primeiro parágrafo de um discurso. O autor de Hebreus sentiu que, já que ia falar da revelação suprema de Deus aos homens, devia revestir seu pensamento da linguagem mais nobre possível. Um grande pensamento exigia uma expressão grandiosa. E até aqui notamos algo que é de sumo interesse. O autor da carta deve ter sido preparado na oratória grega. Ao tornar-se cristão não desdenhou o patrimônio assimilado; usou o talento que tinha a serviço de Jesus Cristo.

É bem conhecida a bela lenda do acrobata que se fez monge. Diz-se que lamentava muito ter tão pouco que oferecer. Certo dia alguém o viu entrar na capela e deter-se perante a estátua da Virgem Maria. Depois de um momento de vacilação, decidiu oferecer o que tinha: — interpretou o repertório acrobático de todas as provas ginásticas que tinha aprendido. Assim que terminou suas contorções ajoelhou-se em adoração. E então — conta a lenda — a estátua de Maria cobrou vida, baixou do pedestal e enxugou com suavidade o suor da fronte do acrobata que tinha devotado tudo o que podia. Quando alguém se torna cristão não deve abandonar todos seus dons e talentos, mas sim deve usá-los para o serviço de Jesus Cristo e de sua Igreja.

A idéia básica da carta afirma que só Jesus Cristo traz para os homens a revelação plena de Deus; e que só Ele capacita para entrar na própria presença de Deus. O escritor começa aqui opondo a figura de Jesus à dos profetas que o precederam. Fala de Jesus como daquele que tem que vir, nestes últimos dias. Os judeus dividiam o tempo em duas eras: — “a presente e a futura”. Entre as duas situavam o dia do Senhor. A era presente era inteiramente humana e má; a era futura seria a era áurea de Deus. O Dia do Senhor no meio consistiria em algo assim como as dores de parto de uma nova era. Por isso diz o autor: — “O tempo velho está passando, a era do incompleto está terminando; o tempo das conjeturas e da incerteza humanas chega a seu fim; a nova era de Deus amanheceu em Cristo”. Via que o mundo e o pensamento dos homens tinham, por assim dizer, um novo começo com Jesus Cristo. Em Jesus, Deus tinha entrado na humanidade, a eternidade tinha invadido o tempo e as coisas já não podiam ser as mesmas.

O autor prefere começar comparando Jesus com os profetas, porque sempre se creu que estes estavam no segredo de Deus. Muito tempo antes Amós havia dito: — “O SENHOR Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas” (Amós 3:7). Filo diz que “os profetas são intérpretes do Deus que os usa como instrumentos para revelar aos homens o que quer”. Posteriormente esta doutrina tinha sido mecanizada por completo. Atenágoras dizia que Deus movia a boca dos profetas do mesmo modo que um homem toca um instrumento musical, e que o Espírito soprava neles como um flautista na flauta. Justino Mártir diz que o divino desce do céu para pulsar os profetas como o plectro pulsa as cordas da harpa ou do alaúde. No final parecia que os profetas não tinham outra relação com sua mensagem que a do instrumento com a música que toca ou a da pena com a mensagem que escreve. Isto era mecanizar muito a questão; porque a verdade é que o melhor músico está em certa medida à mercê de seu instrumento. Não se pode interpretar boa música num piano ao qual faltam certas notas ou estão desafinadas, e até o melhor escritor depende em certa medida de sua pena. Deus não poderia revelar mais do que os homens pudessem entender. A revelação de Deus vem através de mentes e corações humanos. E isso é exatamente o que via o autor de Hebreus.

Diz que a revelação de Deus, a verdade, veio muitas vezes (“polymeros”) e de muitas maneiras (“polytropos”). Notemos dois pensamentos.

[1] – A revelação dos profetas tinha uma variedade tão grande que fazia dela algo tremendo. Em cada época em que agiam adaptavam a mensagem às circunstâncias, fazendo ressaltar aquela faceta da verdade que resultava essencial para os homens aos quais falavam. Nunca se tratava de algo estático, passado de moda; algo carente de pertinência ou incompreensível; sempre era algo adequado às necessidades de cada época.

[2] – Ao mesmo tempo, essa revelação era fragmentária e devia apresentar-se em forma tal que pudesse ser entendida apesar das limitações da época. Era fragmentária. Uma das coisas mais interessantes é ver como várias vezes os profetas se caracterizam por uma idéia determinada. Por exemplo, Amós é “um clamor pela justiça social”. Isaías compreendeu a santidade de Deus. Oséias, por causa de sua própria amarga experiência caseira, descobriu a maravilha do amor de Deus que perdoa. Cada profeta, a partir de sua própria experiência da vida, e da experiência de Israel, capta e expressa um fragmento, uma parte da verdade de Deus. Nenhum profeta tinha captado todo o círculo completo da verdade; mas outra coisa acontecia com Jesus. Jesus não era uma parte da verdade; era a verdade inteira; não era uma revelação fragmentária de Deus, mas sim sua revelação completa; nEle Deus não mostrava alguma faceta de sua verdade; revelava-se Ele próprio plenamente aos homens. Além disso, os profetas tinham usado vários métodos, por exemplo, o discurso; quando este fracassava recorriam à ação dramática (1 Reis 11:29 – 32; Jeremias 13:1 – 9; 27:1 – 7; Ezequiel 4:1 – 3; 5:1 – 4). Tinham tido que usar métodos humanos para transmitir uma parte da verdade de Deus. Também isto era distinto no caso de Jesus. Jesus revelou a Deus sendo Ele mesmo Deus. O que nos mostra como é Deus não é tanto o que disse e fez como o que é em si mesmo. A revelação dos profetas foi grande e múltipla, mas fragmentária e oferecida através de métodos que podiam achar para fazê-la efetiva; mas a revelação de Deus em Jesus era completa e estava apresentada em Jesus mesmo. Em outras palavras, os profetas eram os amigos de Deus, mas Jesus era o Filho; os profetas captaram parte da mente de Deus, mas Jesus era a própria mente de Deus. Note-se que o autor de Hebreus não pretende diminuir os profetas; seu propósito era deixar bem assentada a supremacia de Jesus Cristo. Não diz que há uma ruptura entre a revelação do Antigo Testamento e a do Novo; dá ênfase ao fato de que há continuidade: — uma continuidade que termina na consumação.

O autor de Hebreus utiliza duas grandes figuras para descrever a Jesus. Diz que foi o “apaugasma” da glória de Deus. O termo tem duas acepções: — pode significar resplendor, uma luz que brilha, ou pode significar reflexo, a luz refletida. Em nosso caso significa mais provavelmente resplendor. Jesus é o resplendor da glória de Deus entre os homens. O autor considera Jesus o “carakter” da mesma essência divina, de sua substância, de seu ser. Agora, em grego “carakter” tem duas acepções; significa primeiro um selo e segundo, a marca ou impressão que o selo deixa na cera. A impressão tem a forma do selo e reproduz exatamente e em detalhe sua forma. Quando o autor de Hebreus diz que Jesus é o “carakter” do ser de Deus quer afirmar que em Jesus encontra-se a imagem mesma e expressão exata de Deus. Assim como na impressão vê-se como é o selo que a fez, assim também em Jesus vê-se exatamente como é Deus. Jesus não é fragmentário ou incompleto; é a expressão total e exata de Deus. C. J. Vaughan assinalou que esta passagem nos ensina seis coisas importantes sobre Jesus.

[1] – A Jesus pertence a glória original de Deus; é seu resplendor. Este é um pensamento sublime. Jesus é a glória de Deus. Vemos, pois, com clareza meridiana que a glória de Deus não consiste em esmagar os homens e tiranizá-los, reduzindo-os a uma servidão abjeta, mas em servir aos homens, amá-los e, finalmente, morrer por eles. A glória de Deus não é a glória do poder destruidor, mas sim a do amor que sofre.

[2] – A Jesus pertence o império prometido. Os escritores do Novo Testamento nunca tiveram dúvida sobre o triunfo final de Jesus. Advirtamos que se referem a um carpinteiro galileu crucificado como criminoso sobre uma colina no lado de fora de Jerusalém. Os próprios discípulos sofreram uma perseguição selvagem e eram da mais humilde procedência. A eles se referia Sir William Watson quando escrevia: — “Ao lobo selvagem do ódio foi sacrificado o ofegante e confuso rebanho cujo crime era Cristo”. Mas apesar de tudo jamais duvidaram do triunfo final. Viviam a certeza que o amor de Deus tinha o respaldo de seu poder e que no final os reinos deste mundo seriam do Senhor e de seu Cristo. Bem faríamos em captar de novo este otimismo com que a Igreja primitiva desafiava os acontecimentos.

[3] – A Jesus pertence a ação criadora. A Igreja primitiva tinha um grande pensamento. Sustentava que o Filho tinha sido o agente e instrumento de Deus na criação; que nas origens Deus, de algum modo, tinha criado o mundo mediante seu Filho. Estavam imbuídos da idéia de que aquele que tinha criado o mundo seria aquele que recriava a esse mesmo mundo; aquele que fez o mundo devia ser aquele que também o redimisse.

[4] – A Jesus pertence o poder sustentador. Por seu poder faz com que tudo siga sua marcha para frente. Os cristãos primitivos tinham uma compreensão tremenda da doutrina da providência. Não pensavam que Deus tivesse criado o mundo para logo abandoná-lo a seu próprio destino. De algum modo e em algum lugar existia um poder na vida e no mundo que conduzia cada coisa e cada vida a seu fim estabelecido.

[5] – A Jesus pertencia a obra redentora. Ele levou a cabo a necessária purificação do pecado dos homens. Com seu sacrifício pagou o preço e com sua presença contínua liberta do pecado.

[6] – De Jesus é a exaltação mediadora. Está sentado a mão direita da glória de Deus; mas o tremendo pensamento do autor de Hebreus que não está ali para ser o juiz, senão para interceder por nós; a fim de que quando nos apresentarmos perante Deus, não ouçamos a acusação da justiça divina, mas sim o amor de Deus interceder por nós.

Paz e graça.
Pr. Me. Plínio Sousa.

[1] – Comentário de Hebreus por William Barclay, p. 15 – 20, Tradução: Carlos Biagini, Título original em inglês: The Letter to The Hebrews.

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