Jeremias 9:17 – 26.
Carpideira é uma profissional feminina cuja função consiste em chorar para um defunto estranho, alheio [desconhecido]. É feito um acordo monetário entre a carpideira e os familiares do falecido, a carpideira chorava e mostrava seus prantos sem nenhum sentimento, grau de parentesco ou amizade. A profissão existe há mais de 2 mil anos.
As carpideiras profissionais (cf. 2 Samuel 14:2; Mateus 9:23; João 11:31, 33) tomavam parte em cerimônias fúnebres; sua tarefa era a de evocar lamentação apropriada aos enlutados. Ainda hoje sua voz se ouve de Sião.
No Brasil, as carpideiras chegaram junto com a colonização portuguesa. Inicialmente o pagamento não era feito em dinheiro, mas com bens da família do cadáver — O que seria propriamente a relação da Igreja e as carpideiras?
Vamos a explicação — a punição predita e lágrimas de lamúria, de lamentação, de ai […].
O próprio Senhor dos Exércitos diz: — “Considerai e chamai carpideiras, para que venham”, versículo 17, do capítulo 9 de Jeremias. O objetivo disso é mostrar o quanto, provavelmente, seria lamentável e dolorosa a condição desse povo; há aqui trabalho para as carpideiras: — “Chamem as carpideiras, pois elas sabem como compor cantigas tristes, ou, pelo menos, entoá-las com tons tristes, e por isso são usadas em funerais para compensar a falta de pessoas que realmente pranteiem” — que “levantem o seu lamento sobre nós”, diz o versículo 18. As mortes e os funerais eram tantos que as pessoas choravam por eles até que já não tivessem mais forças para chorar, como em 1 Samuel 30:4 (TB): — “Davi e o povo que se achava com ele, levantaram a sua voz e choraram, até não terem mais forças para chorar”. Que o façam, portanto, aquelas que trabalham nisso. Ou, melhor dizendo, isso indica a extrema estupidez do povo, que não compreendeu os juízos sob os quais se encontravam, e, nem mesmo quando houve tanto sangue derramado puderam motivar seus corações a derramar uma lágrima. Eles não choram quando Deus os imobiliza — “Aqueles que têm um coração perverso guardam raiva e, mesmo quando são castigados, não clamam pedindo socorro” (cf. Jó 36:13). Deus lhes enviou os seus profetas pranteadores para convocá-los a chorar e lamentar. Mas a sua palavra na boca dos profetas não despertou a fé deles. Portanto, antes que a sua ruína tenha início, que venham as carpideiras e tentem trabalhar sobre a sua imaginação, para que “os seus olhos possam, por fim, se desfazer em lágrimas, e as suas pálpebras possam gotejar abundantemente”. No princípio ou no final, os pecadores deverão chorar — sempre há trabalho para os verdadeiros chorosos.
No versículo 19 está uma grande lamentação, a cena atual é muito trágica, diz o texto: — “Uma voz de pranto se ouviu de Sião”. Alguns entendem que se trata da cantiga das carpideiras. Na verdade, é um eco dela, ressoado por aqueles cujos sentimentos foram despertados por seus lamentos — existe outro texto que demonstra, que [pelo choro de Jesus] judeus tiveram sentimentos conscientes despertados sobre, de fato, o que Ele sentia por um amigo [Lázaro]: — “Jesus chorou. Os judeus, então, diziam: — Vede como Ele o amava!” (cf. João 11:35, 36), teve outras situações em que Jesus chorou (cf. Lucas 19:41, 42; Hebreus 5:7); talvez judeus já sabiam o que um lamento exprimia, expunha ou representava — em Sião, enquanto o povo se manteve próximo de Deus, a voz de alegria e prazer costumava ser ouvida. Mas o pecado tinha alterado o tom e a inflexão. Agora o que se ouve é a voz da lamentação. Aparentemente, é a voz daqueles que fugiram de todas as partes da nação para a fortaleza de Sião, em busca de proteção. Em vez de alegrar-se por ter chegado a salvo até ali, eles lamentavam terem sido forçados a refugiar-se ali: — “Como estamos arruinados!”, diziam eles (v. 19). Como fomos despidos de todas as nossas posses! “Estamos mui envergonhados” — substanciavam em tom obstinado eles — de nós e da nossa pobreza. Eles se queixam não do seu pecado, mas se enrubescem [avermelham] somente de pensar: — “Estamos mui envergonhados, porque deixamos a terra” (forçados a fazer isso pelo inimigo). Eles se envergonham não porque deixaram o Senhor, sendo afastados e seduzidos pelas suas próprias luxurias, mas porque as suas moradas foram transtornadas, porque foram expulsos delas, mas não porque o seu Deus os expulsou.
A Igreja encontra-se nesta realidade, tanto homens quanto mulheres, choram e ruborizam, dentro de seus antros (os quais chamam de “Igreja”, o que não a é) e espeluncas familiares (os quais chamam de “Família”, que também não a é) por seus bens, lacrimejam por dinheiro, choramingam por posições, gemem por luxúrias, visam e intentam disputas, consumam adultérios, estudam e efetivam assassinatos — não as Escrituras, pois desprezam a doutrina divina — se tornam egoístas e avarentos, petulantes e altivos, arrogantes, blasfemos e condenados, razão, de negarem a Lei de Cristo (cf. 2 Tessalonicenses 2:10 – 12; João 3:18), se mostram desde a juventude, desobedientes aos pais, e, à vista disso, quando adultos agem como ingratos (pois, se negaram o amor dos pais, qualquer outra coisa, é para eles, ridicularia, insignificância); comportam-se como ímpios [e talvez sejam], sem amor pela família, em tão alto grau a terrena quanto a eterna, evidencia-se irreconciliáveis e caluniadores em ambas, não possuem domínio próprio [não produzem o Fruto do Espírito], em vista disso, são cruéis, inimigos do bem e traidores, sempre precipitados agem soberbamente, pois, confiam em si, são mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus, e assim, vivem obstinados, altaneiros, apresentando sempre a aparência de piedade em suas ações, mas, em suas próprias ações acabam negando o seu poder — a Escritura ordena: — “Afaste-se desses também” (cf. 2 Timóteo 3:2 – 5) — mas, a Igreja aproxima-se dos tais, ao invés de, se afastar, achando-se mais sábia que Deus — e, por isto, bebem igualmente do mesmo juízo (cf. 2 João 11); dar hospitalidade aos falsos mestres ou a falsos cristãos indica simpatia e apoio aos seus ensinamentos e comportamentos do mal; não é proibido a cortesia comum, mas é proibido a ação que estimula, incentiva ou encoraja, os malévolos em suas obras más (cf. Efésios 5:11). “A Igreja se envergonha não porque deixou o Senhor, sendo afastados e seduzidos pelas suas próprias concupiscências, mas porque as suas casas foram e estão transtornadas, porque foram expulsos da presença de Deus, mas não estão tristes, porque o seu Deus os expulsou — é nítido o quão distante a Igreja está do seu Senhor” — chamem as carpideiras!
Assim, os corações arrogantes lamentam a calamidade, mas não a sua iniquidade — nesta ocasião, se negar a Lei era algo assustadoramente terrível, hoje, negar o Evangelho é ainda infindavelmente pior, pois, a Lei versa de verdades fragmentárias, mas, o Evangelho da verdade plena, totalmente revelada (cf. Hebreus 1:1 – 3) — que é a principal causa da calamidade. Ainda haverá mais motivos para lamentação. As coisas estão mal, mas provavelmente irão piorar. Aqueles cujas terras os vomitaram (como aconteceu com seus antecessores, os cananeus, e com razão, porque esses, do texto de Jeremias 9, estão seguindo os passos deles, Levítico 18:28) se queixam de que são levados à cidade, mas, depois de algum tempo, os da cidade, e eles também, serão forçados a fugir dali: — “Ouvi, pois, vós […] a palavra do Senhor”. Ele tem algo mais a vos dizer, como diz o versículo 20: — “Contudo ouvi, mulheres, a palavra de Jeová, e recebam os vossos ouvidos a palavra da sua boca, e ensinai a vossas filhas o pranto, e cada uma à sua vizinha o lamento”. Que as mulheres o ouçam, as mulheres cujos espíritos podem receber as impressões de tristeza e medo, pois, os homens não darão ouvidos, não ouvirão com paciência — “os homens são sempre tentados a vaidade”. Os profetas ficarão felizes em pregar a uma congregação de mulheres que treme diante das palavras de Deus. “Os vossos ouvidos recebam a palavra da sua boca”, e lhe dêem as boas vindas, ainda que a palavra seja de terror. “Ensinai o pranto a vossas filhas”. Isto sugere que os problemas durariam muito tempo, a tristeza seria transmitida à geração futura. Os jovens são propensos a amar a alegria, e esperar a alegria, e têm disposição para serem alegres. Mas que as mulheres mais velhas ensinem as mulheres mais jovens a serem sérias, que lhes digam sobre o vale de lágrimas que devem esperar encontrar neste mundo, e que as eduquem entre as carpideiras de Sião (cf. Tito 2:4, 5) — “que cada uma ensine a lamentação à sua companheira” — Isto sugere que o problema se espalhará por grandes áreas, irá de casa em casa. As pessoas não precisarão ser solidárias com os seus amigos. Elas terão motivos suficientes para prantear por si mesmas. Note algo, que aqueles que se influenciam com os terrores do Senhor devem empenhar-se para influenciar a outros com eles. O juízo ameaçado aqui é descrito como terrível; primeiro diz, “multidões morrerão” (v. 21). A morte entrará em triunfo e não haverá como escapar quando ela vier com comissão, seja nas casas, seja nas ruas. Não nas portas, pois ainda que as portas sejam fechadas com extrema rapidez, ainda que sejam firmemente trancadas e aferrolhadas, a morte sobe pelas janelas, como um salteador à noite, e nos rouba antes que nos demos conta — como sempre digo: — “Fleres, si scires tua têmpora mensem. Rides, cum non sit forsitan una dies”. Deveríamos ficar alarmados, aflitos, assustados, e apreensivos se tivéssemos a certeza de que não viveríamos mais um mês, de fato; no entanto, ficamos indiferentes, apáticos, alheios, estranhos, afastados, neutrais, imparciais, e desapaixonados mesmo sem termos a certeza de que viveremos mais um dia — a Escritura diz: — “Louco! Esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?” (cf. Lucas 12:20, 21) — Assim é aquele que para si ajunta “tesouros”, e não é rico para com Deus — Nem atacará ousadamente somente as cabanas, mas entrará em nossos palácios, os palácios de nossos príncipes e nobres, por mais grandiosos que sejam, por mais fortificados e guardados que sejam. Note novamente algo, que nenhum palácio pode manter a morte do lado de fora, não podem manter-se seguros, mas, aqueles que estão do lado de fora, também não estão seguros. “A morte remove até mesmo as crianças das ruas e os jovens das praças”. As crianças que poderiam ter sido poupadas pelo inimigo, por piedade, por jamais lhe terem sido prejudiciais, e os jovens que poderiam ter sido poupados por questões políticas, por serem capazes de lhe serem úteis, cairão juntos, pela espada. Em nossos dias se tornou usual, até mesmo nas mais severas execuções, não abater ninguém à tiros, exceto aqueles que são encontrados com armas. Mas naquela época, até mesmo os meninos e as meninas brincando nas ruas eram sacrificados à fúria do conquistador; segundo, aqueles que forem mortos não serão sepultados (v. 22): — “Fala: — Assim diz o Senhor (para confirmação e agravamento do que foi dito antes): — Até os cadáveres dos homens jazerão como esterco”, negligenciados, e deixados para serem repugnantes com seu cheiro, assim como o é o esterco, eles serão semelhantes aos vermes que o consomem; a humanidade comum obriga que os sobreviventes enterrem os mortos, até mesmo por si mesmos. Mas aqui será morta uma quantidade tão grande de pessoas, e tão dispersos estarão por toda a nação, que será uma tarefa interminável enterrar a todos, e nem haverá mãos suficientes para fazer isto, e nem os conquistadores o permitirão, e aqueles que fossem fazê-lo estariam tão dominados pela tristeza que não teriam coragem de fazê-lo. Não é exatamente assim que nós nos sentimos já? Os cadáveres, até mesmo dos mais formosos e fortes, depois de expostos por algum tempo, tornam-se esterco; seria bom se todos entendessem o que foi dito por Jó diante do cenário que foi arrasado e assolado pela morte: — “Nu deixei o ventre de minha mãe, e nu partirei da terra” (Jó 1:21). Tamanha é a fragilidade dos corpos que temos. E aqui, multidões tão numerosas cairão, a ponto de seus corpos ficarem como montes de esterco sobre a face do campo. E não se prestará mais atenção a eles do que aos punhados que o segador [ceifeiro] deixa para os que colhem. Pois, ninguém os recolherá, mas permanecerão expostos, como monumentos da vingança divina, para que o olho dos sobreviventes impenitentes possa influenciar os seus corações. Não os mates e não os sepultes, “para que o meu povo se não esqueça” (Salmos 59:11).
Como exprime-se e esclarece, Matthew Henry, acerca do texto: — “O profeta tinha se esforçado para dotar esse povo de um santo temor a Deus e aos seus juízos, para convencê-los tanto do pecado como da ira. Mas eles ainda têm recurso a algum subterfúgio ou a outro, sob o qual se abrigam da condenação, e com o qual se desculpam pela obstinação e pela desatenção. Ele, portanto, se dedica a afastá-los desses refúgios de mentiras, e a mostrar-lhes como eram insuficientes” — Os ministros da palavra de Deus desta obstinada e birrenta geração — sofre o peso, o desconforto dos antigos profetas.
Quando eles ficaram sabendo quão inevitável era o julgamento, alegaram a defesa de seus políticos e suas autoridades, que, com a ajuda da sua riqueza e do seu tesouro, pensaram que tornariam a cidade inexpugnável. Em resposta a isso, ele lhes mostra a loucura de confiar nesses auxílios, e de vangloriar-se deles, enquanto não têm um Deus em concerto no qual possam se apoiar, como mostra os versículos 23 e 24. Aqui Ele mostra: — [1] – Aquilo em que não podemos confiar, em um dia de aflição: — “Não se glorie o sábio na sua sabedoria”, como se com esse auxílio ele pudesse superar ou minar o inimigo, ou, na situação mais extrema, encontrar uma ou outra evasiva. Pois, a sabedoria de um homem pode falhar quando ele mais necessitar dela, e ele será enganado pela sua própria astúcia. Aitofel foi enganado, e os conselheiros frequentemente são malconduzidos. Mas, se a prudência de um homem lhe falhar, ainda assim ele certamente poderá conseguir seu intento, pelo poder e pela coragem. “Nem se glorie o forte na sua força”, pois, a batalha nem sempre pertence ao mais forte. “Davi, o jovem, prova ser duro demais para Golias, o gigante”. Toda força humana não é nada, sem Deus, pior que nada contra Ele. Mas a riqueza do rico não poderá ser a sua fortaleza? (o dinheiro responde a todas as coisas) Não. “Não se glorie o rico nas suas riquezas”, pois, elas estarão tão longe de abrigá-lo que poderão expô-lo e torná-lo um alvo mais nítido. Ou seja, a mensagem diz: — que o povo não se glorie dos sábios, e fortes, e ricos, que estão em seu meio, como se pudessem fazer algo contra os caldeus, porque têm homens sábios para aconselhá-los a respeito da guerra, homens fortes para lutar suas batalhas, e homens ricos para arcar com os gastos da guerra. Que as pessoas, particularmente, não pensem em escapar à calamidade comum por sua sabedoria, por sua força ou por seu dinheiro. Pois, tudo isso provará ser apenas inútil para a segurança. [2] – Ele mostra em que podemos confiar em um dia de aflição. O nosso único consolo, em meio às dificuldades, será o fato de termos cumprido o nosso dever. Aqueles que se recusaram a conhecer a Deus, como demonstra o versículo 6, se vangloriarão, em vão, de sua sabedoria e riqueza. Mas aqueles que conhecem a Deus de um modo inteligente, que compreendem corretamente que Ele é o Senhor, que não somente compreendem corretamente a sua natureza, os seus atributos, e o seu relacionamento com o homem — através de uma Teologia sã — mas, que recebem e retêm as impressões de todas essas coisas, podem se gloriar no precioso e glorioso Senhor; esse conhecimento será a sua alegria no dia da calamidade. Mais uma coisa, a nossa única confiança, nas dificuldades, será o fato de que, tendo, pela graça, de alguma maneira cumprido o nosso dever, veremos que Deus é um Deus auto-suficiente para nós. Nós podemos nos gloriar no fato de que, onde quer que estejamos, temos uma familiaridade e um interesse no Deus que faz “beneficência, juízo e justiça na terra”. Ele não é somente justo para com todas as suas criaturas, e não fará mal algum a qualquer uma delas, mas é bondoso para todos os seus filhos, os protegerá, e proverá para eles. “O que se gloriar glorie-se nisto: — em me conhecer e saber que eu sou o Senhor, que faço beneficência, juízo e justiça na terra. Porque destas coisas me agrado”, diz o versículo 24, de Jeremias 9. Deus se agrada em mostrar bondade e em realizar o juízo, e se agrada com aqueles que são seus seguidores, como filhos queridos e amados. Aqueles que têm tal conhecimento da glória de Deus a ponto de serem transformados à mesma imagem, e de participarem da sua santidade, percebem que esse conhecimento é a sua perfeição e glória — sabendo algo, que para nós, Igreja, a santificação é “a qualidade da santidade”, que será exteriorizada no Dia do Juízo, portanto, participem da santidade de Deus, “em paz […] sem a qual ninguém o verá” (cf. Hebreus 12:14). Em meio às suas maiores dificuldades eles podem confiar alegremente no Deus com o qual fielmente se colocam em conformidade. Mas o profeta sugere que a maioria dessas pessoas não se preocupou com isso. A sua sabedoria, e o seu poder, e as suas riquezas, eram sua alegria e esperança, que terminariam em tristeza e desespero. Mas aqueles poucos entre eles que conheciam a Deus podiam se alegrar com isso, e se vangloriar disso. Esse conhecimento valioso lhes serviria muito mais “do que inúmeras riquezas em ouro ou prata” (cf. Mateus 6:19 – 24); quando eles ouviram o quanto seus pecados eram provocadores a Deus, inutilmente alegaram o concerto da sua circuncisão (não a circuncisão feita no coração, mas, a da carne, que para nada serve, senão apontar para a circuncisão do coração) — sem dúvida, eles eram o “povo” [nação] de Deus. Assim como tinham o templo do Senhor na sua cidade, também tinham o sinal de seus filhos na carne. É verdade que o exército caldeu devastou tais e tais nações, porque eram incircuncisas. Portanto, não estavam sob a proteção da divina providência, como nós estamos. A isso, o profeta responde: — “Eis que agora os dias da visitação são chegados, nos quais Deus punirá todas as pessoas ímpias, sem fazer nenhuma distinção entre circuncidados e incircuncisos”, como diz os versículos 25 e 26. Eles tinham, pelo pecado, profanado a coroa da sua peculiaridade [propriedade], e tinham vivido em comum com as nações incircuncisas, e assim tinham perdido o benefício daquela peculiaridade e deveriam esperar não obter as suas vantagens. Deus visitará “a todo circuncidado com o incircunciso”. Assim como a ignorância dos incircuncisos não desculpará a sua impiedade, também os privilégios dos circuncidados não desculparão a sua ignorância, mas todos eles serão punidos, juntos. Note, que o Juiz de toda a terra é imparcial, e ninguém se sairá bem no seu tribunal através de qualquer vantagem externa, pois. Ele dará a cada homem, circuncidado ou incircunciso, segundo as suas obras. A condenação dos pecadores impenitentes que são batizados será tão garantida, ou melhor, será mais severa do que a dos pecadores impenitentes que não são batizados. Seria impressionante encontrar Judá habilmente colocada entre o Egito e Edom, como estando no mesmo nível que eles e sob a mesma condenação (v. 26). A essas nações é proibida uma participação nos privilégios dos judeus (cf. Deuteronômio 23:3). Mas os judeus aqui ficam sabendo que compartilharão as suas punições, ou seja, “ímpios não participam nem participarão das bênçãos da Igreja – talvez de forma indireta, aqui somente, pelo que Deus faz no meio do seu povo – mas, certamente, a Igreja que não se voltar para Deus, compartilhará dos juízos dos ímpios, severamente (cf. Mateus 7:21 – 23). Aqueles que estão nos locais mais distantes, que “habitam no deserto”, são supostamente os de Quedar e os dos reinos de Hazor, como percebemos através da comparação com Jeremias 49:28 – 32. Alguns pensam que são assim chamados porque habitavam, de certa forma, em um local muito distante no mundo. Outros, porque tinham os cabelos cortados nos cantos. De qualquer maneira, pertenciam àquelas nações que eram incircuncisas na carne, e os judeus são contados com eles, e estão tão próximos da sua destruição por causa de seus pecados quanto eles — não é diferente o que ocorre na Igreja atual, não mesmo! Pois, toda a casa de Israel é incircuncisa de coração: — “eles têm o sinal, mas não possuem a essência do sinal”. Não possuem aquilo que o sinal representa (cf. Jeremias 4:4). “Eles são pagãos em seus corações, estranhos a Deus, e inimigos em suas mentes, devido às obras ímpias que praticam”; seus corações se dedicam a ídolos, assim como os corações dos gentios incircuncisos — digo sempre — “Idolatria é tanto oferecer um culto a falso deus, quanto oferecer culto falso ao verdadeiro Deus” — ouvi certa vez, que “um ídolo na mente é tão ofensivo a Deus, quanto um ídolo nas mãos”. Observe algo, que os selos do concerto, ainda que nos dignifiquem e nos coloquem sob obrigações, não nos salvarão, a menos que o nosso espírito, e o teor de nossa vida, estejam em conformidade com o concerto; a circuncisão é um sinal externo. Mas o batismo é um sinal que está no coração (cf. Romanos 2:28, 29).
A Igreja necessita de perfeitos arquétipos (padrões perfeitos), razão disto, é que no máximo que este mundo pode oferecer há alguma imperfeição; nunca chega a ser totalmente o que sabemos que deveria ser; no amor maior da Terra há ainda alguma imperfeição; no conhecimento mais alto da Terra há ainda ignorância; na maior realização humana há ainda persistentemente algum elemento de imperfeição; na fé há ainda incredulidade; na santidade há ainda a necessidade de santificação (separação), pois, há pecado em nós — o Padrão cristão deve ser necessariamente a Escritura, somente — e não devemos jamais envergonharmos das instruções divinas, pois, é o Padrão de todas as coisas criadas; e aqui é apenas o pálido reflexo da realidade, a eternidade; como dizia Browning: — “O alcance de um homem deveria exceder seu logro ou, para que existe então o céu?”.
Onde, em que lugar estão as carpideiras? Sabemos que para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu, inclusivamente: — “tempo de chorar […], tempo de prantear” (Eclesiastes 3:4); precisamos seguir a ordem: — “chorem com os que choram [pode ser pelo eco das carpideiras]!” (Romanos 12:15), e a razão é que: — “Rios de lágrimas correm dos […] olhos, porque a […] lei [de Deus] não é obedecida [em sua Igreja]” (Salmos 119:136) — façamos, urgentemente como Jó — “Costuremos vestes de lamento sobre a pele e enterremos a testa no pó. Até que o rosto fique rubro de tanto chorar, e sombras densas circundem nossos olhos” (Jó 16:15, 16), para que “lágrimas sejam o alimento de dia e de noite” (Salmos 42:3), e assim, culmine, atinja e alcance, em que: — “Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colham. Aqueles que saem chorando enquanto lança a semente, voltem com cantos de alegria, trazendo os seus feixes” (Salmos 126:5, 6) e, no fim, aqui, Deus “mude o pranto em dança, a veste de lamento em veste de alegria” (Salmos 30:11) e lá na eternidade, ecoe-se esta alegria que é para sempre, sabendo que será, “enxugado dos olhos toda lágrima. [Pois, lá] não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro [de tristeza e medo], nem dor, pois, a antiga ordem já passou” (Apocalipse 21:4).
Mas, ainda hoje a ordem é: — Chamem as carpideiras!
Paz e graça.
Pr. Me. Plínio Sousa.
[1] – Matthew Henry’s Commentary on the whole Bible, Volume IV, Isaiah to Malachi – Domínio público – Tradução: Valdemar Kroker, Haroldo Janzen, Degmar Ribas Júnior [citações].